Análise Transacional e Trabalhabilidade

Rosa R. Krausz (*) – rokra@terra.com.br

Fonte: Este artigo foi publicado originalmente no Jornal “OPÇOES” e posteriomente no site da UNAT-BR ( http://www.unat.com.br )

Como desenvolver competências duráveis e atualizar competências renováveis em cenários de instábilidade?

O cenário contemporâneo, com suas profundas e vertiginosas mudanças, constitui um momento da história da humanidade a um tempo fascinante e desafiador. As inovações nos atropelam, invadem nossas vidas, questionam os nossos valores, testam nossa auto-estima, desafiam nossa capacidade de conviver com a ambiguidade, a instabilidade e a imprevisibilidade dos acontecimentos. Os modismos, cada vez mais efêmeros, não se aplicam apenas às coisas materiais, mas também ao imaterial como ideologias, crenças, comportamentos, filosofia de vida, atividades profissionais que surgem e desaparecem para dar espaço a sucedâneos.

Esta ciranda contínua de modismos globais acaba desembocando na perplexidade ou então num questionamento crucial quando se focaliza a atividade profissional. O que fazer para manter minha capacitação para o trabalho? Continuo competente na minha atividade profissional? Por quanto tempo? O que será necessário fazer para cultivar esta competência e garantir minha trabalhabilidade em momentos onde as ofertas de emprego são oscilantes e mutantes e as empresas não mais garantem estabilidade e segurança?

Trabalhabilidade (1), é um conceito por nós criado para descrever uma nova condição do trabalhador diante do mercado de trabalho, na qual cabe a cada indivíduo assumir a responsabilidade de gerenciar o desenvolvimento e aperfeiçoamento de suas competências duráveis e a atualizar de forma constante de suas competências transitórias ou renováveis, competências estas que possuem um valor de mercado e poderão ser utilizadas tanto na relação empregatícia, como em outras formas de atividade remunerada.

Pessoas que investem em suas competências duráveis, e por isso mesmo tem condições de atualizar constantemente suas competências transitórias ou renováveis, possuem um leque mais amplo de opções, elevando assim sua probabilidade de sucesso.Estou me referindo aqui, em termos de Análise Transacional, ao modelo teórico da personalidade integrada, segundo o qual o estado de ego Adulto desempenha a função de executivo da personalidade.

Atua com base nos dados da realidade interna e externa, fruto do diálogo interno entre os três estados de ego descontaminados, o que permite às pessoas tomarem suas decisões de forma consciente, esponsável e gratificante.

Entendemos por competências duráveis um conjunto de capacidades, conhecimentos, aptidões e experiências que proporcionam às pessoas suficiente estabilidade e equilíbrio internos para lidar com a instabilidade e a imprevisibilidade externa. As competências duráveis se manifestam através de comportamentos, visão de mundo,posicionamentos, decisões e trajetória de vida que refletem a coerência entre valores declarados e valores praticados, entre palavras e ações, fruto de um processo de integração e equilíbrio entre os aspectos afetivos, comportamentais e cognitivos.

Destacamos sete (7) competências duráveis, todas elas intimamente conectadas entre si:

1. Auto-conhecimento

Conhecer a si mesmo é um projeto de vida. Implica reflexão, introspecção e empenho para definir claramente nossa trajetória de vida. Inclue, aínda, o desafio do comprometimento consigo mesmo a respeito de objetivos e metas pessoais, a distinção clara entre o que realmente desejo e o que aprendi que devo , ou não devo, desejar. Berne, o criador da Análise Transacional, cunhou o conceito de script, definido como “um plano de vida baseado numa decisão tomada na infância, reforçada pelos progenitores, justificada por acontecimentos subsequentes e culminando com uma alternativa escolhida” (2) E acrescenta Berne, “Scripts baseiam-se, em geral, em ilusões infantís que poderão persistir uma vida inteira. Em pessoas mais sensíveis, perceptíveis e inteligentes, estas ilusões se dissolvem, uma a uma, levando às crises existenciais descritas por Erikson. Entre elas está a reavaliação dos pais pelos adolescentes, os protestos as vezes bizarros da meia-idade e depois disso a emergência da filosofia.” (3).

O auto-conhecimento é um ingrediente fundamental da trabalhabilidade, principalmente num mundo onde a consciência da interdependência, a capacidade de trabalhar em equipes reais, ou virtuais, de relacionar-se com pessoas de culturas, valores e formação profissional diferentes são condição sine-qua-non para se obter resultados, resolver problemas, tomar decisões num mundo de trabalho globalizado. As empresas começam a enfatizar a importância da contínua troca de feedback entre pessoas e grupos, mas sabe-se que se não houver abertura para ouvir, humildade para reconhecer e coragem para processar a informação recebida, não haverá nem crescimento das pessoas, nem mudanças na natureza e qualidade de suas interações. Através da teoria dos Estados de Ego (4), a Análise Transacional disponibiliza um instrumental rico, versátil, profundo e acessível para o nosso auto-conhecimento, permitindo-nos descobrir ou reconhecer facetas que os que estão à nossa volta já conhecem de longa data. Tendemos, não conscientemente , a permanecer agarrados a uma auto-imagem muitas vezes distorcida, formada no passado que nos impede de utilizar o nosso potencial.

Mas a decisão de atualizarmos esta auto-imagem representa um ato de coragem e de auto-respeito, uma liberação de certas proibições passadas que abrem o caminho para novos e surpreendentes horizontes que nunca antes ousamos explorar.

2. Competência Interpessoal

Se olharmos à nossa volta com olhos não convencionais, observaremos o quanto a humanidade, e cada um de nos, carece de relacionamentos saudáveis e gratificantes que poderiam tornar nossas vidas mais completas, mais plenas em afeto e de autenticidade. Esta carência se evidencia desde os primeiros relacionamentos que se dão no contexto familiar e se expandem para nossas experiências na escola, no grupo de amigos, no trabalho, etc. No mundo do trabalho, e nas empresas em particular, fica mais evidente que a maioria dos problemas existentes não são de ordem técnica, mas sim de relacionamento interpessoal.

Embora as estruturas organizacionais estejam se se alterando com visivel rapidez, a participação, a colaboração, a lealdade, a ética nos relacionamentos, a transparência, o trabalho em equipe continuam sendo mais objeto de discurso do que da prática cotidiana. A ruptura dos padrões e valores que marcaram a Era Industrial é inevitável, mas muitos, por estarem subjetivamente despreparados, procuram resistir ao processo de mudança.

Fala-se hoje em administração responsável, gestão sem desculpas e justificaticas, ênfase nos resultados. A Internet coloca hoje pessoas geográficamente distantes em contato com os acontecimentos e informações em tempo real. Muitos acabam se condenando à marginalização num mercado de trabalho que exige, além que conhecimentos técnicos especializados, pessoas com sensibilidade e intuição apuradas, flexibilidade e abertura para aprender, elevada auto-estima e versatilidade para conviver com as pressões e ambiguidades do dia-a-dia e, principalmente, estabelecer relacionamentos construtivos com colegas, coordenadores, colaboradores, clientes internos e externos, fornecedores. Os serviços assumem importância central, o cliente passa a ser o foco das atenções, uma vez que é ele que faz girar a roda dos negócios, a capacidade de negociação torna-se um elemento chave para a retenção da clientela.

Competência interpessoal, ou seja, capacidade de interaragir de forma construtiva com as pessoas, tal como o auto-conhecimento, é um exercício constante de expansão da auto- consciência e da consciência do outro, é aprimoramento permanente de nossa capacidade de transmitir de forma eficaz e adequada nossas idéias, sentimentos, opiniões, é sensibilidade apurada, é capacidade de observar a reação de nossos interlocutores e utiliza-la como feedback para verificar se a mensagem foi fielmente transmitida e captada.

Competência interpessoal é saber lidar com conflitos, com convites para jogos psicológicos, em resumo, gerir o relacionamento com seres que pensam, agem e reagem diferentemente de nos, possuem necessidades e expectativas diversas no que diz respeito aos resultados da interação.
Ao desenvolver a teoria sobre as Transações, Berne legou-nos um instrumental ímpar para compreender não só o processo de relacionamento interpessoal, mas também os efeitos da utilização dos diferentes canais de comunicação, permitindo assim prever resultados mais prováveis e estabelecer estratégias para tornar as trocas de estímulos e respostas mais eficazes, produtivas e gratificantes, diagnosticar jogos psicológicos em qualquer uma de suas etapas ne evitar relacionamento tóxicos que tanto mal e tanto ressentimento provocam entre as pessoas.

3. Sensibilidade e Intuição

Sensibilidade são recursos importantes que dispomos para captar o que acontece à nossa volta, mas que tendem a ser sub-utilizados seja por terem sido tradicionalmente desencorajados pelos processos educacionais a que fomos submetidos, seja porque escapam à metodologia da lógica cartesiana do Penso, logo existo. Berne ressaltou, já na década dos cinquenta, a importância das sensações viscerais como uma fonte importante de sinais de alerta, uma forma de obter insights preciosos, de captar as sutilezas das pessoas e dos acontecimentos, para a qual não existem aínda explicações lógicas e racionais. Na atualidade António Damásio, neurólogo radicado nos Estados Unidos, utiliza o termo “indicadores somáticos” para descrever este fenômeno e Ikujiro Nonaka da Universidade de Berkeley, California, menciona que é “o caos e a descontinuidade podem gerar novas formas de interação entre indivíduos e seu ambiente. Os indivíduos recriam seus próprios sistemas de conhecimento para darem-se conta da ambiguidade, redundância, ruído ou causalidade que são geradas no ambiente organizacional”. Trata-se de uma forma de conhecimento tácito que se cristaliza através dos tempos e é passada de geração a geração através das mais diversas metáforas culturais que representam o que as pessoas sabem, mas não conseguem expressar de forma lógica e organizada.

No mundo contemporâneo, caracterizado por uma economia de serviços e pela presença cada vez mais marcante da mulher nos diferentes campos de trabalho, alarga-se o espaço e a credibilidade para os aspectos soft, (intuição, sensações e sentimentos) os chamados intangíveis ou virtuais, em contraposição aos aspectos hard (instalações, equipamentos, matéria prima, etc.), os chamados tangíveis ou materiais.

O paradoxo é que estas competências duráveis, sensibilidade e intuição, embora representem um elevado valor econômico no mercado e uma vantagem estratégica sem concorrência, tem sido sub-utilizadas e muitas vezes desconsideradas no mundo dos negócios. Alguns setores empresariais, entretanto, em particular os que tem experiência com “matérias primas” intangíveis como idéias, percepções, palpites, sensações, como é o caso de ramos como publicidade, marketing, software, telecomunicações, etc., estão aprendendo rapidamente a valorizar estas competências.

4. Conectividade

Entendemos por conectividade a capacidade de criar redes de relacionamento (outro intangível), engajar pessoas em objetivos comuns, estabelecer vínculos duradouros e autênticos com uma ampla gama de pessoas, formar parcerias, alianças e fazer contatos diversificados. Conectividade está imtimamente ligada com competência interpessoal, autenticidade, empatia, credibilidade, entusiasmo, amplitude de interesses, sensibilidade.

Ettiene Wenger (5) criou o conceito de “comunidades de interesse” para descrever grupos informais que surgem espontâneamente nos locais de trabalho, onde pessoas se agrupam para colaborar, partilhar informações, conhecimentos e experiências, ensinar e aprender, acolhendo todos os interessados, independente de instrução, posição ou títulos. Como diz Wenger, “Não há distinção entre aprendizagem e participação social, e é esta última que torna a aprendizagem duradoura e significativa” A conectividade, o aglutinar pessoas, o manter élos de ligação diversificados, constituem uma via de relacionamento e interação que transpõe barreiras entre níveis hierárquicos, áreas, setores, grupos profissionais e empresas, facilitando a integração de esforços, acesso às informações, além de estimular a cooperação, o sentimento de pertencer e ser aceito. Trata-se de uma forma de atuar que facilita a criação de parcerias e a emergência de lideranças informais e espontâneas.

Círculos amplos e diversificados de relacionamento criam oportunidades para a aprendizagem contínua, permitem trocas que enriquecem nossa experiência e expandem nossa visão de mundo. Por esta razão a conectividade como competência durável tem resistido a séculos de história e continuará tendo crescente importância num mundo no qual informações e conhecimentos são a matéria prima por excelência..

5. Versatilidade/Adaptabilidade

Embora a versatilidade/adaptabilidade tenham sido importantes mesmo em períodos de mudanças mais lentas e menos dramáticas, no mundo contemporâneo são imperiosas em virtude do intenso e constante rítmo da transformação. Nos últimos cinquenta anos a ciência e a tecnologia avançaram mais do que em todos os séculos de história registrada da humanidade. A capacidade de ajustamento rápido a novos cenários e demandas mutantes do mercado tornou-se um fator crucial para a sobrevivência das empresas. Tanto a cúpula, como a base dos sistemas organizacionais precisam estar aptas a fornecer respostas rápidas, o que significa a necessidade de rever papéis, funções, estilos de liderança e gestão de pessoas. Os processos de produção de bens e serviços estão exigindo, cada vez mais, envolvimento e comprometimento com os resultados do trabalho, auto-controle em vez de controle externo, participação responsável em vez de submissão às ordens dos superiores hierárquicos, foco no cliente em vez de cumprimento cego de normas e procedimentos , visão de médio e longo prazo em vez de metas semanais ou mensais.

O dinamismo do mercado implica alterações nos processos de trabalho, nos métodos e filosofias de gestão e no relacionamento entre funcionários e empresa. Produtividade, melhoria de processos, renovação de produtos e serviços, qualidade de atendimento ao cliente, temperados com criatividade, intuição, sensibilidade, versatilidade e adaptabilidade às condições emergentes são as armas com as quais os concorrentes se enfrentam. Num mundo que se desmaterializa o COMO passa a ter maior relevância do que o O QUE em todos os campos da atividade humana. Um exemplo típico são os supermercados que oferecem as mesmas linhas de produtos e onde o diferencial competitivo é o atendimento, a disposição e disponibilidade das mercadorias, o ambiente, as promoções, a imagem institucional.

Quanto mais rápidas as mudanças do cenário sócio-econômico, mais críticas se tornam a versatilidade e a adaptabilidade.

Quando Berne descreve o estado de ego Criança, enfatiza a importância da curiosidade, criatividade, espontaneidade e flexibilidade como recursos preciosos que sustentam nossa infinita capacidade de mudar, bem como a intuição que nos alerta para as inúmeras oportunidades de faze-lo.

6. Capacidade de Negociação e de Administrar Conflitos

Negociar, mais do que uma arte, é uma filosofia de vida baseada na cooperação, no respeito aos nossos direitos e aos direitos dos outros.. Trata-se de um processo social/interpessoal que nos da oportunidade de exercitar/testar nosso auto-conhecimento, competência interpessoal, sensibilidade/empatia, conectividade, versatilidade/adaptabilidade e capacidade de estabelecer acordos/contratos claros, exequíveis e que contemplem igualmente todas as partes envolvidas.

Trata-se de uma relação OK/OK tão bem descrita por Berne (6) quando fala das características do Triunfador, (ou Vencedor) características estas que precisam ser insistentemente exercitadas num mundo carente de auto-respeito e respeito ao próximo.

Todos temos capacidade de negociar, entretanto poucos a praticam por limitarem sua opções diante de conflitos de idéias, opiniões, posicionamentos, preferência, necessidade e interesses. Nossa tendência é recorrer à submissão ou imposição, o famoso jogo do ganha/perde, cujas inúmeras versões e efeitos foram magistralmente descritos por Berne (7).

As nossas maiores dificuldades e problemas tem, quando analisados com atenção, suas raízes nas falhas de contratação. No caso específico do trabalho, se considerarmos que cada trabalhador, qualquer que seja seu campo de atuação, dispõe de um capital humano para investir numa determinada atividade, seja ela autônoma, liberal ou com vínculo empregatício, dificilmente poderá haver envolvimento e comprometimento de parte a parte se não forem estabelecidos acordos/contratos em relação ao que uma espera da outra e que tipo de retorno cada uma auferirá.

Ao criar o conceito de relação contratual, a Análise Transacional demonstra, tanto na teoria quanto na prática, que se não assumirmos a responsabilidade por nossos atos, se não utilizarmos nossos erros como forma de aprendizagem e crescimento pessoal e profissional constantes, poucas chances teremos de alterar o status quo. Em outras palavras, se não tomarmos a iniciativa de rever determinados comportamentos repetitivos e estereotipados, correr o risco de questionar certas reações aos estímulos que recebemos, proceder a uma auto-análise honesta e sincera a respeito de nossas qualidades e limitações, se necessário com ajuda profissional especializada, nada mudará e nossos costumeiros conflitos e dificuldades continuarão se repetindo emdiferentes cenários, com diferentes pessoas e em momentos diferentes.

Negociar é administrar as diferenças de interesses, encontrar semelhanças e aspectos convergentes em situações aparentemente divergentes. Negociar é ouvir e fazer-se ouvir, é saber reformular posicionamentos, analisar um acontecimento, uma situação ou um impasse através de diferentes prismas, definir objetivos a serem alcançados. Negociar é, em resumo, um meio para atingir um fim, isto é, equacionar uma relação de interdependência na qual as partes envolvidas necessitam uma da outra para atingir seus objetivos.Por isso pressupõe uma combinação eficaz de empatia, criatividade, definição clara de metas e objetivos a serem alcançados, flexibilidade e competência interpessoal.

7. Abertura e disposição para aprender e reconstruir experiências

Ser um eterno aprendiz é deixar-se surpreender pelo novo, pelas descobertase constatações, é reconhecer que sempre é possível aprender mais. Trata-se de uma postura de humildade através da qual reconhecemos nossaslimitações a respeito do saber, no seu sentido mais amplo, e permanecemos abertos ao crescimento e desenvolvimento de nossas potencialidades.

Esta competência durável é fundamental em cenários de rápida mudança e momentos históricos de avanço constante da ciência e tecnologia, cujas consequências são o obsoletismo crônico dos saberes e do fazer acontecer.

Por exemplo, se até pouco tempo afirmava-se que era impossível transplantar células cerebrais , constatou-se recentemente que o cérebro do feto humano contém células mestras (chamadas de células de talos neurais – neural stem cells) que podem transformar-se em qualquer tipo de célula cerebral, havendo elevada probabilidade de uma vez injetadas num cérebro humano doente, substituirem espontâneamente as células doentes ou mortas. (8).

No mundo do trabalho no qual profissões surgem e desaparecem em poucas décadas, processos de produção de bens e serviços mudam radicalmente, a natureza do trabalho transforma o indivíduo de mera mão de obra em criador de idéias , solucionador de problemas e responsável pela obtenção de resultados, a capacidade de aprendizagem é vital. No entanto, a grande maioria dos seres humanos sub-utiliza esta capacidade, por não acreditar que seja capaz de faze-lo, por acomodação, por temor de enfrentar desafios, por render-se a hábitos arraigados, por desqualificar seu potencial.

A manutenção da nossa trabalhabilidade envolve um investimento constante na atualização. Trata-se de um patrimônio virtual inalienável, indestrutivel, passível de desenvolvimento ilimitado que assegura nossa estabilidade interna, mantém nossa auto-estima elevado e nos permite conviver com a instabilidade do meio ambiente sócio-econômico, além de maximizar a utilização dos recursos que possuimos e as oportunidades que se nos apresentam.

A Análise Transacional constitui um instrumento potente para facilitar este processo, pois além de uma teoria do comportamento humano , é também, um conjunto de técnicas de mudança comportamental através da qual cada indivíduo é o artífice de sua própria mudança e da expansão de sua consciência. Um outro ponto importante a ressaltar é que a Análise Transacional é uma filosofia de vida que por enfatizar o auto-respeito e o respeito ao próximo, responsabilidade pelos próprios atos, autonomia e capacidade de conduzir o rumo da própria vida, elementos que estão se tornando cada vez mais essenciais para a vida, está em plena sintonia com as demandas e necessidades da sociedade contemporânea.

Berne, um visionário à frente de seu tempo, contribuiu de tal para expandir a compreensão do comportamento humano nos mais variados aspectos que suas idéias e conceitos foram e continuam sendo utilizados por muitos autores de sucesso, que omitem a fonte e as referências devidas a Análise Transacional. Cabe a nos, seguidores cônscios desta teoria, não só disponibilizar os meios para coloca-la ao alcance de todos os que almejam expandir seu auto-conhecimento e definir sua trajetória de vida, como também resgatar a contribuição desta teoria para o avanço da prática psicoterapêutica, da metodologia da educação foirmal, da educação continuada e da educação de adultos, bem como da compreensão dos processos interpessoais e grupais nas organizações. Trata-se de uma tarefa delicada, de elevada responsabilidade e de crucial importância que envolve tanto o cultivo das competências duráveis, quanto a atualização das competências renováveis, ambas apoiadas em princípios éticos sólidos e coerentes.

Nossa experiência, baseada na utilização dos princípios da Análise Transacional nps últimos 25 anos, no âmbito da consultoria, treinamento e desenvolvimento de pessoas em empresas dos mais variados tipos e ramos, bem como na formação de analistas transacionais, tem demonstrado reiteradamente o vigor e a eficácia desta teoria como instrumento básico de desenvolvimento e aperfeiçoamento das competências duráveis.

Investir na nossa trabalhabilidade, seja qual for a nossa atividade, significa continuar aprendendo sempre, tornar-se mais apto a processar as alterações, navegar tranquilamente pelas gigantescas ondas da transformação rumo aos nossos reais objetivos, mantendo a capacidade de apreciar a riqueza de cada etapa desta jornada fascinante que é a nossa existência.

Referências Bibliográficas:

(1) Ver Krausz, R. Trabalhabilidade. São Paulo, Nobel, 1999.
(2) in Berne, E. O que voce diz depois de dizer olá? São Paulo, Nobel, 1988, p. 356.
(3) in Berne,E. op.cit., p. 37.
(4) Ver Berne,E. Análise Transacional em Psicoterapia. São Paulo, Summus, s/d.
(5) Wenger, E. Communities of Practice: The Social fabric of a Learning Society. Health Care Forum Journal, July-August, 1996, p.22.
(6) Berne, E. O que voce diz depois de dizer olá. São Paulo, Nobel, 1988, pgs. 171-176.
(7) Sobre o assunto ver Berne, E. Os Jogos da Vida, São Paulo, Editora Brasiliense, 1978. James, M. Nascido para Vencer, São Paulo, Editora Brasiliense, 1975 e Krausz, R. Trabalhabilidade, São Paulo, Nobel, 1999.
(8) Time Magazine, Beyond 2.000, Nov. 8,1999.

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(*) Rosa R. Krausz é Membro Didata da UNAT-BRASIL e da ITAA para as áreas organizacional e educacional e Consultora em treinamento e desenvolvimento de capital humano com vasta experiência no Brasil e no exterior. É autora de diversos livros sobre sua especialidade e de artigos publicados no Brasil , EUA, Holanda, Bélgica, Alemanha e Itália.Conferencista e apresentadora em eventos nacionais e internacionais.