As regras de comunicação segundo Berne. Como utilizamos estas regras em nossa prática

Por José Silveira Passos

Primeira regra – Sempre que há transações complementares, a comunicação prossegue indefinidamente e/ou atinge os objetivos.

Segunda regra – Sempre que há transações cruzadas, a comunicação é interrompida ou muda de rumo.

Terceira regra – O resultado das transações ulteriores é determinado a nível psicológico e não a nível aparente, desse modo, não há uma maneira de predizer o comportamento através do processamento do nível social resultante de uma transação ulterior; a predição depende em todos os casos do conhecimento do nível psicológico.

Para que a comunicação se processe sem desvios, as transações mais apropriadas são as complementares, desde que envolvam todos os estados de Ego. Quando isto não ocorre, estaremos diante de uma transação fechada, típica de um relacionamento simbiótico. Daí a utilização da primeira regra da comunicação.

As transações cruzadas são as responsáveis pela maioria dos desentendimentos e conflitos entre os seres humanos, seja no trabalho, no lar, na escola, entre amigos, etc. Entretanto, passam a ser adequadas, quando a sua utilização tem por finalidade interromper transações fechadas ou simbióticas, interromper jogos, confrontar, etc.

Quanto as transações ulteriores, seus efeitos são duplamente negativos para o processo de comunicação, pois não só causam confusão, mas também produzem a interrupção do processo. A confusão gerada pela duplicidade de estímulos que exigem uma escolha de resposta, em geral, é dada pelo estado de Ego mais ativo do receptor. Quando este responde à mensagem social, cruzar a psicológica e vice-versa, resulta sempre em algum tipo de quebra da comunicação. Além disso, as transações ulteriores constituem um convite para os Jogos Psicológicos.

Em nossa prática utilizamos as regras da comunicação academicamente em cursos e palestras com a finalidade de aclarar os entraves do processo de comunicação.
Na prática clínica, geralmente quando abordamos com o cliente os aspectos da análise funcional, introduzimos os conceitos de transações explicitando as regras da comunicação, incentivando os clientes a levá-las em conta na comunicação do dia-a-dia.

Outro aspecto que temos em mente, durante o processo psicoterápico, é transacionar com o cliente nos diversos estados de Ego, ainda que não estejamos trabalhando com análise das transações propriamente dita, evitando assim, ater-nos ao uso predominante do estado de Ego Adulto, o que segundo Berne (ATP), há a possibilidade de ocorrer transações cruzadas (diferentemente do modelo Psicanalítica).

Usamos, sempre que necessário, o conceito da segunda lei da comunicação no contexto das “Opções” de Karpman, no sentido de cruzar uma transação com o objetivo de interromper ou não permitir entrar em jogos psicológicos, bem como às vezes interromper transações fechadas, etc.

Consideramos o uso dos conceitos das leis da comunicação de grande utilidade na composição de diagnósticos, bem como no planejamento e no prognóstico do tratamento, como por exemplo o cliente que utiliza predominantemente transações cruzadas em sua comunicação, provavelmente estruturará o seu tempo de modo negativo, ficando a maior parte do tempo em isolamento (diálogos internos), terá dificuldades em se abastecer com carícias positivas (é provável que receba carícias agressivas). Por outro lado, se o cliente utiliza com freqüência transações ulteriores, certamente recebe carícias negativas em abundância, através dos jogos psicológicos, ficando assim, “impedido” de desfrutar de intimidade com as pessoas que o rodeiam.

Procuramos manter-nos consciente, no processo da terapia, do nível psicológico da comunicação, pois se assim não procedermos, poderemos correr o risco de reforçar as patologias do cliente através de mensagens embutidas nas transações que poderão funcionar como reforçadores de comportamentos.

Bibliografia:

1 – Berne, E., Análise Transacional em Psicoterapia, Editorial Summus, São Paulo, 1985.
2 – Berne, E., Introducción al Tratamiento de Grupo, Adiciones Grijalbo S/A, Barcelona, Buenos Aires, México, D. F.