Definição de transação, suas divisões e subdivisões. Um exemplo de transações transferencial e angular

Por José Silveira Passos

Segundo Berne (ATP) “As manifestações da relação social são chamadas transações. Estas ocorrem especificamente em cadeias: um estímulo transacional procedente de X faz emergir uma resposta transacional de Y; esta resposta torna-se um estímulo para X, e a resposta de X, por sua vez, torna-se um novo estímulo para Y”, p. 82. A transação é a unidade de ação social, que envolve um estímulo e uma resposta.

Segundo Thomas A. Harris (EU ESTOU OK), “A transação consiste num estímulo de parte de uma pessoa e numa reação de outra, que por sua vez se torna um novo estímulo para a primeira pessoa”, p. 77.

Segundo Woollams e Brown (Manual Completo), “Transação é a troca de carícias entre duas pessoas, e consiste num estímulo e numa resposta entre dois estados de Ego específicos”, p. 71.

Se não houver resposta ao estímulo, não há transação. Qualquer estímulo origina-se de um dos estados de Ego do emissor e dirige-se a um determinado estado de Ego do receptor. Da mesma forma, a resposta origina-se de um estado de Ego do receptor e dirige-se a um estado de Ego do emissor. O estudo das transações tem por finalidade diagnosticar qual o estado de Ego que implementa o estímulo e qual o que emite a resposta, permitindo compreender a dinâmica do relacionamento do sistema PAC.

As transações são analisadas através de diagramas estruturais de primeira ordem ou de diagramas funcionais. Os diagramas funcionais fornecem maior número de informações e são utilizados para resolução de problemas concretos.

Divisões e subdivisões:

Segundo Berne (ATP) as transações podem ser Simples e Ulteriores:

1) Simples – Constituem uma transação simples aquelas em que os fenômenos são observáveis, aparentes, permitindo uma avaliação objetiva dos mesmos. Essas transações podem ser complementares ou cruzadas:

Complementares ou paralelas – São aquelas em que tanto o estímulo como a resposta atingem os estados de Ego visados:

Tipo I – São representadas mediante vetores paralelos horizontais no diagrama (P-P; A-A; C-C);

Tipo II – São representadas mediante vetores inclinados no diagrama (P-C; C-P);

Tipo III – São representadas mediante vetores inclinados ocupando apenas a metade inferior do diagrama (C-A; A-C);

Tipo IV – São representadas mediante vetores inclinados ocupando apenas a metade superior do diagrama (A-P; P-A).

Cruzadas – São aquelas em que o estímulo é recebido por um estado de Ego diferente daquele que se visava atingir, e a resposta é dirigida a um estado de Ego diferente daquele que emitiu o estímulo:

Tipo I – Chamada de transferencial, em que um estímulo racional (A-A), vem uma resposta infantil em busca de apoio (C-P);

Tipo II – Chamada de contra-transferencial, em que um estímulo racional (A-A) vem uma resposta parental, provavelmente em busca de obediência (P-C);

Tipo III – São aquelas em que o Adulto não participa, envolvendo apenas o Pai e a Criança dos interlocutores. O estímulo parte da C para o P e a resposta vem também da C para o P (Queixa mútua);

Tipo IV – Também o Adulto dos interlocutores não participam, sendo que neste caso, o estímulo é de P para C e a resposta também é de P para C (Infinito).

2) Ulteriores – Constitui uma transação ulterior aquela em que os fenômenos não são aparentes, não aparecem na superfície, ocorrem subjacentes, por “debaixo dos panos” em concomitância ao aparente (ao observado). Apresentando, assim, dois níveis de comunicação: um a nível social (aparente), representados por vetores com linhas cheias, e outro a nível psicológico (subjacente), representado por vetores com linhas pontilhadas. Podem ser:

Duplex – Envolve quatro estados de Ego na transação, sendo que dois a níveis aparentes e dois a níveis subjacentes.

Angulares – Envolve três estados de Ego, sendo um a nível subjacente e dois a níveis aparentes.

Exemplo de transações transferencial e angular.

– Transferencial:

{mosimage}

TERAPEUTA (dirigindo-se a um cliente):
E – Como passou a semana?
CLIENTE (em resposta ao terapeuta):
R – Ah… Dr. Só o senhor me entende… lá em casa ninguém quer saber de mim…

– Angular:

{mosimage}

TERAPÊUTA (dirigindo-se a um grupo de estudantes de psicologia):
Mensagem aparente:
E – Tenho uma vaga no grupo de terapia às terças-feiras. Mas só poderá participar quem tiver coragem.
Mensagem Subjacente (desafiando a Criança do estudante):
E’ – Quem é você para ter coragem de participar de um grupo de terapia!
ESTUDANTE (em resposta à mensagem subjacente):
R – A vaga é minha!

Bibliografia:

1 – Berne, E. Análise coragem Transacional em Psicoterapia, Editorial Summus, São Paulo, 1985.
2 – Woollams S. e Brown, M. Manual Completo de AT, Ed. Cultrix, São Paulo, 1976.
3 – Harris, T. A. Eu Estou OK Você Está OK, Editora Artenova, Rio de Janeiro, 1977.