Definição e Conceito de " Imago Grupal", as quatro (4) fases de evolução de um grupo segundo Berne e como aplicamos esse conceito em nossa prática.

Por José Silveira Passos

Berne em “Introducción al Tratamiento de Grupo” diz: “La estructura privada, esto es, el grupo tal como aparece a los ojos de cada miembro, se encuentra en la imago del grupo que tiene ese miembro”, p. 179. Imago grupal é a captação do grupo segundo cada indivíduo. É baseado no princípio da diferenciação com o objetivo de classificar as relações mais importantes que se ocultam por trás das relações formais do grupo. A analogia que cada indivíduo faz do grupo familiar com a imagem do grupo está relacionada com processo de transferência, daí a expectativa de que o líder se comporte da mesma forma que o seu objeto internalizado.

Berne afirma que em uma situação de terapia, o indivíduo transfere para o terapeuta aspectos de sua realidade pessoal, e vê no terapeuta seu próprio pai ou mãe como um Perseguidor ou Salvador, assim como os viam na infância. Assim sendo, as reações são programadas na infância; são respostas condicionais que buscam com o terapeuta o mesmo tipo de reforço que recebiam na infância. Ou seja, o indivíduo encara o terapeuta, o grupo como um todo e cada membro do grupo, transferencialmente, conforme percebeu, sentiu e vivenciou o primeiro grupo do qual fez parte, o grupo familiar.

Segundo Berne (Groups), em relação a localização do indivíduo no grupo, existem quatro tipos gerais de posições de imago, a saber:

– Posição narcisista do cliente;
– Posição transferencial ( ocorre quando o terapeuta é visto como líder);
– Posições diferenciadas ( neste caso se relacionam com mecanismos transferenciais extra-analíticos);
– Posição indiferenciada (é um recurso que constitui uma reserva para futuras diferenciações).
Por este motivo um membro de um grupo pode estar, com relação a imago, subdiferenciado, plenamente diferenciado ou sobrediferenciado.

* Subdiferenciação – quando existe maior número de membros do que lugares diferenciados, ou seja, quando o indivíduo somente diferencia uma parte do grupo – o líder e mais um ou alguns membros – deixando os demais membros indiferenciados. Como no exemplo abaixo, onde cinco membros estão diferenciados (líder e o próprio cliente):

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* Plenamente Diferenciada – Pode ocorrer a plena diferenciação de duas maneiras:

Diferenciação Homomórfica – Ocorre quando membros indiferenciados são distribuídos pelos lugares já ativados, de modo que o cliente passa a comportar-se com as mulheres como se fossem mães ou irmãs e com os homens como se fossem pais ou irmãos, como representado no diagrama:

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Diferenciação Heteromórfica – Ocorre quando membros indiferenciados são distribuídos em posições mais recentes, por exemplo novos lugares podem ser ativados com filhos, professores, etc., dependendo de como tenha sido sua história familiar de origem, como no diagrama:

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* Sobrediferenciação – Ocorre quando um cliente que já tenha uma imago heteromórfica plenamente diferenciada do grupo do qual faz parte, se transfere para um outro grupo que por exemplo possui menor número de membros do que o seu grupo de origem. Ele terá a opção de eliminar alguns lugares, provavelmente os menos importantes, com a finalidade de buscar a equivalência entre dois grupos, ou ainda terá a opção de distribuir alguns membros ou todos eles em mais de um lugar. Neste caso estará se dando a sobrediferenciação em sua imago.

Assim sendo, o cliente poderá transacionar em diferentes momentos, de maneira diferente com um mesmo membro. Ou seja, poderá tratar uma mulher do grupo, ora como mãe em determinado momento e ora como irmã em outro momento, etc., como no diagrama:

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Fases de desenvolvimento de um grupo segundo Berne.

Segundo Berne (Groups), há dois tipos de imagem de grupo: a imago provisória e a imago verdadeira.

A imago provisória é a imagem mental que se tem antes da formação de um grupo ou antes de ingressar nele. A imago verdadeira é a imagem mental que se forma no momento quando se dá conta como é o grupo e como funciona. Normalmente a imago verdadeira não coincide com a imago provisória, o que implica em um ajuste progressivo das imagos que levará o ajuste do próprio indivíduo no grupo e isto se dá em quatro fases, segundo Berne:

Primeira fase – Participação – O indivíduo ao ingressar em um grupo, cria uma imagem provisória que por sua vez cria expectativas e fantasias. O indivíduo ainda não sabe como vai acontecer na realidade e conserva nesse primeiro momento a imago provisória;

Segunda fase – Implicação – Iniciando-se os trabalhos, o indivíduo vai percebendo o que se passa, compara a imago verdadeira com a imago provisória que criou, observa e já faz alguns comentários.

Terceira Fase – Compromisso – Nesse momento o indivíduo estabelece transações mais profundas onde seu processo interno já aparece nitidamente (diálogos internos), aceita sua imago verdadeira do grupo, porém ainda conserva suas tendências individuais distônicas.

Quarta fase – Pertencimento – É o momento em que o indivíduo se engaja no comprometimento com seu próprio processo e renuncia às tendências distônicas negativas.

Aplicação desse conceito em nossa prática

Em nossa prática, procuramos delinear os trabalhos de grupo de tal sorte que facilite o engajamento dos participantes, o mais natural possível dentro de cada fase.

Na primeira fase há uma tendência à predominância de rituais e isolamento no grupo. Por isso procuramos dar uma atenção mais individualizada, direcionando os trabalhos para a análise estrutural. Às vezes, no primeiro dia de encontro do grupo, fazemos alguma dinâmica que possa facilitar a integração, como por exemplo, conversarem aos pares durante uns seis minutos, trocar de pares e conversar por mais uns seis minutos e assim por diante, até que todos tenham tido a oportunidade de conversarem entre si.

Quando o grupo já está em andamento e ingressa algum membro novo, normalmente promovemos nos dez primeiros minutos alguma atividade que facilite ao novato se inserir no grupo. Como por exemplo: Pedir que cada membro do grupo ” adivinhe” o nome, profissão, estado civil, bairro onde mora, prato preferido, etc., da pessoa que está entrando no grupo e ao final ele (novato) faz o mesmo com cada um dos participantes. Após isto cada um se apresenta e aproveitam para verificar o número de acertos.

Na segunda fase que é caracterizada por passatempos, costumamos dar início aos trabalhos de analise de algumas transações, quando ocorre por exemplo, transações cruzadas e ulteriores. Durante esta fase fazemos uso com freqüência dos diagramas estruturais e funcionais (no quadro negro), buscando dar informações a respeito de tais transações quando ocorrem.
Já na terceira fase, que é quando o grupo já se encontra mais integrado e consequentemente a resistência é menor, o que possibilita o aparecimento dos jogos, transferencias, etc., iniciamos as intervenções no grupo o que facilita a autopercepção dos participantes.

Daí em diante a entrada na quarta fase se faz de maneira quase imperceptível, que é quando os participantes estão preparados para assumirem seus processos e empenharem-se em resolvê-los, indo em busca de suas autonomias. Normalmente observamos em nossos grupos que nesta fase há até uma “disputa” (no bom sentido) de quem vai falar primeiro, em segundo, etc.(chegam até, algumas vezes, fazerem uma lista com a inscrição dos participantes), com receio de que não haja tempo de trabalharem suas questões.

Bibliografia:

1 – Berne, E. Structure and Dynamics of Organizations and Groups, Grove Press, New York, EUA, 1966.
2 – Berne, E. Introdution al Tratamieno de Grupo, Ediciones Grijalbo, B. Aires.
3 – Caracushansky, S. Curso Avançado de AT de Base Psicanalítica, Editora Assertiva, São Paulo.