Definição e descrição das quatro Posição Existencial (PE) descritas por Eric Berne e uma comparação

Por José Silveira Passos

Posição Existencial (PE) é a forma como percebemos a nós mesmos em relação às outras pessoas. Ou ainda, são juízos de valores ou conceitos de si mesmo e dos demais, adquiridos na infância, através de tomadas de decisões, muitas vezes imaturas e irreais, uma vez que são baseadas nas condições precárias de criança para raciocinar e pensar objetivamente diante de realidade.

Berne (Olá) definiu quatro Posições Existenciais básicas, organizando-as na seqüência descrita a seguir:

1ª) – Eu estou OK / Você está OK (+/+) – Realista;
2ª) – Eu estou OK / Você não está OK (+/-) – Projetava;
3ª) – Eu não estou OK / Você está OK (-/+) – Depressiva; e
4ª) – Eu não estou OK / Você não está OK (-/-) – Fútil/Niilista.

Harris (Eu estou OK Você está OK), organiza as PE em uma seqüência diferente de Berne, conforme descritas a baixo:

1a. Posição Existencial (-/+) – Segundo Harris (Eu Estou OK…), esta posição origina-se da incapacidade e da dependência da criança em relação aos pais e outros adultos, nos seus primeiros meses de vida. Nessa época, a criança simplesmente não tem condições de sobreviver sozinha: ela é totalmente dependente dos pais e, mais especificamente, da mãe. À medida que a mãe lhe dispensa carinho, atenção e a alimenta com toques positivos incondicionais freqüentes, a criança parece desenvolver, segundo Harris, uma atitude que, traduzida em palavras, significa algo como: “Eu sou fraca, e você me protege, alimenta-me, cuida de mim. Por isso você é OK. Eu, entretanto, não sou OK, porque não posso fazer nada sem você”, p. 58.

Harris admite por conseguinte, que essa fragilidade da criança leva, naturalmente, a assumir uma posição de inferioridade em relação aos adultos. À medida que ela cresce, essa posição tende, nos primeiros anos da infância, a se acentuar, porque a criança continua mostrando-se inábil e dependente. Ela não conhece nada, são os adultos que lhe explicam as coisas, que lhe dão informações, que lhe ensinam como fazer as coisas, que lhe dão ordens. Os adultos são grandes, ela é pequena.

Quando adulta, muitas vezes, a pessoa permanece com esse mesmo sentimento de impotência e dependência estabelecido na infância, já que os principais registros no PAC parecem ocorrer entre zero e cinco anos de idade. Quando atinge proporções graves, esta Posição Existencial, segundo o autor, pode levar a pessoa a situações de fuga da realidade, de intensa depressão ou mesmo de suicídio.

Eu não sou OK/Você é OK é chamada Posição Existencial INTROJETIVA, em que a pessoa lança para dentro de si mesma os sentimentos negativos em relação ao mundo que, por vezes, perduram por toda a sua vida.

2a. Posição Existencial (-/-) – Segundo Harris, esta Posição Existencial pode aparecer particularmente quando a criança atinge a idade de um ano de vida. Nessa época, praticamente os filhos são abandonados nas mãos de estranhos, considerando que já cumpriram o seu papel básico e, agora, a educação dos filhos pode ser entregue a babás ou outra pessoa da família.

Quando nessa ocasião, a criança experimenta uma sensação de abandono e solidão, pela falta de carícias positivas, ela pode desenvolver uma atitude diversa: “Eu não sou OK, porque sou fraca e inábil, mas você também não é OK, porque me abandona, quando eu preciso de você”.
Quando esta Posição Existencial se fixa, já na vida adulta ou mesmo na adolescência, a criança ou jovem parece assumir, perante o mundo e as outras pessoas, um desinteresse tão marcante quanto o que tem consigo mesmo. É a chamada Posição Existencial Fútil, caracterizada por expressões do tipo: “Os outros que se danem”, “cada um por si”, etc.

Harris caracteriza esta Posição Existencial como própria de pessoas com graves distúrbios mentais, que as levam a comportamentos esquizóides. Para esse tipo de pessoa, suicídio e homicídio teriam o mesmo valor: tanto ela como os outros velem a mesma coisa, isto é, nada.

3a. Posição Existencial (+/-) – A criança pode adotar esta Posição Existencial, quando por volta dos dez meses a um ano de idade, não apenas é abandonada ou marginalizada, mas é objeto de sevícias ou brutalidade. Uma criança perseguida parece desenvolver um medo agudo dos adultos, do qual procura fugir a todo instante. Neste tipo de situação, além de desenvolver, perante os outros, a atitude de que “eles não são OK”, parece ter uma espécie de mecanismo de compensação, dentro do indivíduo, para as punições que lhe são impostas pela vida, como a dizer-lhe que ele é OK.

O desenvolvimento dessa atitude leva o indivíduo a sentir que “o mundo é culpado dos seus problemas”. Por isso este tipo de pessoa procura explorar os outros ao máximo, sem qualquer piedade ou contemplação. Esse tipo de comportamento é próprio, por exemplo, dos delinqüentes, dos criminosos, e dos contestadores.

Harris mostra que a Posição (+/-), quando levada a extremos, conduz a comportamentos paranóicos, que podem levar inclusive ao homicídio. Esta terceira posição é chamada de Posição Existencial PROJETIVA, em que as condições negativas e adversas são atribuídas aos outros, ao mundo ao redor, é neste sentido, uma Posição oposta à primeira (-/+).

4a. Posição Existencial (+/+) – Esta Posição segundo Harris, é a mais saudável das quatro. Ninguém chega a ela, entretanto, se não fizer uma opção CONSCIENTE: em outras palavras, enquanto a adoção das três posições anteriores é INCONSCIENTE, esta quarta é uma posição assumida pela pessoa que tem o seu Adulto em situação de controlo efetivo.

Na verdade, porém, a posição (+/+) parece ter o problema de sugerir que as pessoas podem estar OK durante praticamente todo o tempo, como se o estado de “bem estar” (okeidade) pudesse ser atingido e, então, mantido constantemente. Não é assim, evidentemente.

Kertész (Manual de Analisis Transaccional) propôs cinco Posições Existenciais básicas:

– Eu estou OK / Você está OK (+/+) – Maníaca;
– Eu estou OK / Você não está OK (+/-) – Paranóide;
– Eu não estou OK / Você está OK (-/+) – Introjetiva;
– Eu não estou OK / Você não está OK (-/-) – Fútil/niilista; e
– Eu estou mais ou menos OK / Você está mais ou menos OK (± /± ) – Realista.

5a. Posição existencial (± /± ) – Esta Quinta Posição Existencial não é reconhecida pela maioria dos Analistas transacionais fora da América Latina. Esta é uma abordagem criada por Roberto Kertész (Argentino). Portanto, esta Posição Existencial não é reconhecida por outras Associações de Análise Transacional, além da UNAT-BR e da ALAAT.

Segundo Kertész (Manual de Análisis Transaccional), esta seria realmente uma Posição Existencial saudável, que seria a Posição (+ ou – / + ou -), equivalente àquela que Harris e Berne apresentam como realista (+/+). Esta Posição Existencial realista (para Kertész), implica admitir que “eu sou OK e você é OK, muito embora eu e/ou você possamos não estarmos OK algumas vezes”.

Esta Posição Existencial, implica também, reconhecer que tanto nós como as outras pessoas temos aspectos positivos que precisam ser ressaltados e usados. No entanto, não basta conhecer isto, mas é preciso sentir isto firmemente, o que exige o controle do Adulto sobre os outros dois estados de Ego.

Segundo Kertész, o Adulto funciona, neste caso, como um verdadeiro executivo da personalidade. Uma pessoa nesta Posição Existencial não tem o seu Adulto contaminado, quer pelo Pai, quer pela Criança. Ela busca Carícias positivas incondicionais, que são as mais saudáveis. Ela é capaz de buscar e experimentar em toda a sua intensidade transações paralelas nos três estados de Ego, sob controle Adulto.

Esta quinta Posição Existencial é chamada por Kertész de Posição Existencial Voluntária, porque é assumida voluntariamente. Berne (Olá) acredita que a PE é tomada pela criança entre 0 a 6 anos. Steiner (Papéis) afirma que a idade de tomada da PE varia de pessoa para pessoa.

Quanto à Posição Existencial Eu Não Estou OK / Você Está OK, a colocação de Harris não é partilhada por outros autores de AT, e não era mesmo a posição adotada por Berne. Na verdade, o fato da criança recém-nascida ser frágil e dependente da mãe não a torna Não-OK.

A criança depende legitimamente da mãe, portanto, é um ser OK. Aliás, Berne parte do princípio de que todos nascem OK. Daí a organização seqüencial de Berne ser diferente da descrita por Harris:

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Eric Berne apresenta os Script de vida relacionados a três questões básicas que o ser humano formula para si mesmo: Quem sou eu? O que estou fazendo aqui? Quem são todas estas pessoas? Estas perguntas são angustiantes para o ser humano, e desde os primórdios da Humanidade, ele as faz para si mesmo.

As decisões que o ser humano toma, em respostas a estas perguntas, são a base para a Posição Existencial que escolhe, e estas Posições são caracterizadas, em geral subconscientemente, em Script de vida e papéis.

Bibliografia:

1 – Berne, E., O que Você Diz Depois de Dizer Olá?, Nobel Editora, São Paulo.
2 – Harris, T., Eu Estou OK Você Está OK, Editora Record, São Paulo.
3 – Kertész, R., Manual de Analisis Transacional, Editora Canantal, B. Aires.
4 – Steiner, C., Os Papéis Que Vivemos na Vida, Editora Artenova, Rio de Janeiro, 1976.