Diversas classificações de Script e aplicação prática desse conhecimento.

Por José Silveira Passos

Berne (Olá) classificou todos os Script em seis categorias principais, tomando como critério a maneira pela qual o indivíduo distribui a sua atividade no tempo, a saber: O indivíduo nunca age ou faz, o indivíduo sempre age ou faz, o indivíduo quase chega a fazer e recomeça, o indivíduo não faz depois, o indivíduo não faz até que…, o indivíduo não faz depois que não haja mais nada para fazer, o que dá origem respectivamente aos seguintes Scripts:

– “Nunca”;
– “Sempre”;
– “Outra e mais outra vez” (“quase”);
– “Depois que”;
– “Até que” (“antes”) e
– “Final aberto”.

Os Scripts “Nunca” seguem Tântalo, que foi condenado pelos deuses a jamais comer ou beber, ficando próximo a água e a comida. Tais Scripts pertencem, segundo Berne, as pessoas cujos pais lhe proibiram de fazer o que mais queriam. E é por que temem seus desejos, que essas pessoas passam o resto da vida tantalizando-se.

Os Scripts “Sempre” seguem Aracne que, tendo feito bordados tão lindos a ponto de se tornar um desafio para a deusa Minerva, foi condenada por esta a passar o resto da vida tecendo teias e, para isso, foi transformada em aranha. Tais Scripts pertencem, segundo Berne, a pessoas com pais impiedosos, que lhes disseram: “Se é isto que querem fazer, podem continuar fazendo-o sempre”.

Todavia, entre os Scripts classificados por Berne em termos de “Depois que”, “Nunca”, “Sempre”, etc., a categoria “Sempre”, foi a única ilustrada com exemplos de pessoas construtivas e, de certo modo, vencedoras. Uma delas se refere ao Script de Sigmund e a outra de Florence.

Os Scripts “Quase” seguem Sísifo que foi condenado a carregar uma pedra morro acima e, sempre que estava para colocá-la no topo, ela lhe rolava das mãos, sendo ele obrigado a começar tudo outra vez. Tais Scripts pertencem, segundo Berne, a pessoas cuja vida se resume num “quase” conseguir, e que justificam o seu fracasso com um “se apenas” atrás do outro.

Os Scripts “Depois que” seguem Dâmocles que chegou a sentar-se no trono, mas logo depois viu uma espada pendendo sobre sua cabeça, presa ao teto apenas por um fio de crina. Tais Scripts pertencem, segundo Berne, às pessoas que foram ensinadas por seus pais que após a diversão começam os problemas e que há um preço caro a pagar por tudo aquilo que se consegue.

Os Scripts “Até que” ou “Antes”, seguem Hércules que precisou ser escravo por doze anos antes de poder ser um deus, ou Jasão que precisou desempenhar certas tarefas antes que pudesse se tornar rei, ou ainda Brunilde que teve de dormir num morro, envolta por um arco de fogo, até que um herói conseguisse penetrá-lo e libertá-la.

Berne descreve a existência dessas pessoas como uma existência sem significado, em que todas as decisões são adiadas até que decorra um período de tempo específico e até que algo de muito perfeito e ideal aconteça. Compara-as à Bela Adormecida, que precisou dormir cem anos até que o beijo do príncipe encantado pudesse despertá-la.

Berne usa duas classificações adicionais para explicar as diferenças entre pessoas que teriam aparentemente o mesmo Script. Diz Berne que os Scripts dividem-se em de tempo horário e de tempo de execução. Os de tempo horário são os daquelas pessoas cujas tarefas eram distribuídas em termos de carga horária (como por exemplo, estudar três horas por dia). Os de tempo de execução são os daquelas pessoas cujas tarefas eram distribuídas em termos de seu tempo de execução, estando sempre explicita uma meta ( como por exemplo estudar até saber a matéria exigida).

Os Scripts de “Final Aberto” seguem Filemão e Bauce que, tendo cumprido a risca todas as ordens de Júpiter foram, como recompensa, transformados em árvores. Tais Scripts, segundo Berne, pertencem a pessoas que passam a vida cumprindo deveres, para acabarem com um mínimo de recompensas, vivendo solitárias, de magra aposentadoria, com uma existência sem significado, à espera da morte.

Segundo Kahler, o “Final Aberto” não constitui um Script à parte, mas sim um desfecho trágico do Script “Depois que “. Berne fala ainda no mito de Europa, como modelo de certos Scripts de vida, mas não insere esses Scripts em nenhuma de suas classificações. Como o autor afirma que todos os possíveis Scripts se enquadram numa das seis categorias por ele descrita, o Script de Europa deveria enquadra-se numa delas.

Berne distingue, ainda, três tipos de Scripts em relação ao êxito em cumprir metas:

– Triunfador;
– Empatador; e
– Fracassado.

Triunfador – São os que assumem riscos calculados, se comprometem e atingem as metas a que se propõem. Ao ouvirmos uma pessoa, detectamos rapidamente se é triunfador ou não. Um triunfador diz coisas como: cometi um erro, mas isso não acontecerá novamente; agora já sei como se faz.

Empatador – Enfrenta os riscos que as limitações de seu Script lhe permitem. Todavia, não pode sair deste caminho, mas tem boa programação para cumprir. Como se seu Script exigisse-lhe grande esforço para alcançar seus objetivos, mas não para triunfar, só para empatar. São os de “pelo menos”. Usam frases como: – Bom, pelo menos eu não… – Pelo menos tenho tudo isto que agradecer.

Fracassado – Causa o máximo de prejuízo a si mesmo e aos outros. Mesmo que estejam no alto continuam fracassados, arrastando os que lhe seguem em sua queda, quando atinge o desfecho ou o saldo do Script. É o tipo que assume risco não calculados, só pensa no que pode ganhar, não no que pode perder e por isto fracassa. Inventa grandes negócios, mas não toma nenhuma medida para concretizá-los. É comum usarem frases como: – Se ao menos… – Deveria ter… – Sim, mas…

Socialmente os triunfadores são pessoas firmes em suas decisões, confiáveis, lutam por seus objetivos com tenacidade. Se perde uma batalha, sabe o que fará após, mas não fala disto. Um triunfador é aquele que em pouco tempo torna-se líder de sua equipe, ganha a partida de cartas e sai com a garota mais bonita do bairro.

O Empatador é um excelente sócio, empregado ou serviçal, pois são leais, trabalhadores e agradecidos e, geralmente não criam problemas. Socialmente são pessoas agradáveis e na comunidade são muitos admirados. Numa disputa, ganha o segundo lugar quando se propôs a ser o primeiro.

O fracassado, ao correr numa disputa, torce o joelho, pára o seu curso no primeiro ano da faculdade ou se enche de dúvida ao iniciar um negócio. Não faz parte da equipe que tanto admira, não sai com nenhuma garota e num jogo é o que perde tudo, se arruinando. Um fracassado não sabe o que fará se perder algo, ficando desesperado, mas fala do que fará se ganhar. Kertész (Manual de Análissis Transaccional) classifica os Script quanto ao êxito em cumprir as metas em cinco categorias:

– Triunfador;
– Vencedor;
– Carreirista;
– Não Vencedor ;e
– Perdedor.

Triunfador – Fixa as metas com autonomia, com critério realista e as cumpre. Por não estar sujeito a um Script, tem muitas opções. Posição Existencial OK/OK realista. Troca carícias positivas incondicionais e condicionais. Toma riscos calculados e se compromete.

Vencedor – Fixa as metas de acordo com as expectativas parentais e as cumpre. Enfrenta os riscos que os limites de seu Script lhe permitem sair de seu caminho sem trocar suas metas básicas. Tem um bom programa para cumpri-las. PE OK/OK realista e NOK/OK. Troca algumas carícias positivas incondicionais e a maioria de positivas condicionais. Poucas negativas.

Carreirista – Cumpre as metas sem escrúpulos. Toma riscos e se algo sair mal, coloca a culpa nos outros. PE OK/NOK; “as pessoas existem para serem usadas”. Troca falsas carícias positivas e carícias negativas.

Não vencedor – Cumpre suas metas em parte. Toma poucos riscos, e por isso fica na mediocridade, o “homem massa”, um bom membro da comunidade. PE NOK/OK é a mais freqüente, às vezes OK/NOK. Troca mais carícias negativas que positivas.

Perdedor – Não cumpre nenhuma meta. Toma riscos não calculados. Só pensa no que vai ganhar, não no que pode perder, e fracassa. Inventa grandes negócios, porém não ativa suas coisas. PE mais freqüente é NOK/NOK. Troca carícias negativas.

Claude Steiner (Papéis) classifica os Scripts básicos em três, isto é, são três maneiras pelas quais as vidas autônomas das pessoas são frustradas e distorcidas:

– Script de Falta de Amor – Depressão;
– Script de Falta de Cabeça – Loucura; e
– Script de Falta de Alegria – Drogas.

Estes Scripts de vida básicos são exemplificados em sua forma extrema por depressão completa e catatônica, pelo enlouquecimento, ou pelo vício em drogas. Entretanto, muito mais comum na vida diária, é um resultado intermediário, tal como pular de um relacionamento amoroso mal sucedido para outro, eventualmente vivendo só, como solteirona ou solteirão; ou ser viciado em cigarros e em café, bebedor, uma pessoa infeliz; ou está constantemente à beira de crises por incapacidade de resolver problemas cotidianos. Uma pessoa pode estar sob influência de um, de dois ou de todos os três Scripts.

Muriel James e Dorothy Jongeward (Nascidos para Vencer) abordam os Scripts como dramas diferentes de vida, que contém graus diversos de construtividade, destrutividade e improdutividade.

Exemplo prático:

Cliente 50 anos, sexo feminino, viúva, dois filhos (um de 27 e outro de 16 anos), vive da pensão deixada pelo marido.
A cliente buscou terapia por indicação de seu ginecologista. Chegou à sessão com um quadro de depressão. Havia quase um mês que não saía de casa. Dizia que não tinha ânimo para nada, só sentia vontade de dormir, não tinha vontade de fazer nada. Às vezes sentia uma “dor” profunda de tanta tristeza (dizia). Apesar de se sentir triste não chorava, apenas se apresentava com um tonos emocional muito baixo. Isto podia ser percebido através de sua expressão facial e corporal, além do tom de voz, etc.

Sua história de vida mostrou que, quando era criança, o seu pai a tratava friamente e era muito distante. Sua mãe era completamente submissa e dificilmente demonstrava suas emoções. Dizia que o seu pai a repreendia de maneira educada e fria, quando ela fazia alguma coisa que ele não gostava. Se sentia injustiçada quando isto ocorria, buscava refugiar-se em seu quarto, masturbava-se e sentia-se mal, chegava a vomitar e às vezes tinha febre. Quando isto acontecia, o seu pai ficava atencioso e mais próximo dela.

Lembra-se que sua babá falava com certa freqüência, que os homens não prestavam, que só serviam para machucar e maltratar as mulheres. Disse que seu pai não queria que ela namorasse, dizia que não tinha criado uma filha para ficar por aí se esfregando com homens.

Casou-se com um executivo de uma empresa multinacional, a quem era totalmente submissa. Disse que seu marido, por ser executivo, vivia viajando (consequentemente muito ausente) e que ela ficava de saco cheio disso. Vez por outra, quando se sentia muito sozinha, dava umas escapadas para ter umas aventuras sexuais. Depois se sentia muito mal e às vezes ficava até doente, vomitando e com febre.

Depois que ficou viúva, costuma se relacionar com homens, que seu pai reprovaria, que terminam de alguma maneira, machucando-a. Atualmente passa a maior parte de seu tempo só, pois acha que as pessoas não gostam de sua companhia.
Disse que desde a adolescência se sente como se algo não “vai bem” com ela (fica deprimida constantemente).

Sua mãe ainda é viva e de vez em quando aparece de surpresa em sua casa (moram próximas uma da outra), como quem “para ver se tudo está em ordem”. Disse que hoje em dia tem medo de ser criticada pela sua mãe (sua mãe a critica constantemente, afirmou). Disse que ultimamente só sai de casa para transar (transa com qualquer homem sem se proteger adequadamente)

Podemos, através da classificação dos Scripts, analisar o estilo de vida da cliente, como por exemplo, o que ela faz de sua vida ao longo do tempo, suas permissões para ter sucesso ou fracasso. Isso aponta para um Script ” Nunca” de acordo com a classificação de Berne, quanto ao tempo.

Podemos também, inferir como irá terminar a sua vida. Verificando o estilo de vida, etc., podemos confirmar a posição Existencial e os Jogos mais freqüentes que a cliente faz. Isto facilita o estabelecimento da estratégia do tratamento. No caso dessa cliente, o seu estilo de vida aponta claramente para um Script de perdedor ou hamártico, que se não for tomadas as providencias no sentido de mudar, o seu final poderá ser de terminar sua vida em uma instituição psiquiátrica, uma doença grave.

Sua PE básica é -/-, porém em determinadas ocasiões, passa grande parte do tempo na posição +/+ (maníaca) . Seus Jogos favoritos: “Psiquiatra” (versão “Psicanálise”), “Não é Horrível?” e “Coitadinha de Mim”.

Bibliografia:

1 – Berne, E. O Que Você Diz Depois de Dizer Olá?, Nobel, São Paulo, 1988.
2 – Steiner, C. Os Papéis Que Vivemos na Vida, Editora Atenova, Rio de Janeiro, 1976.
3 – James, M. e Jongeward, D. Nascidos para Vencer, Editora Artenova, Rio de Janeiro.
4 – Caracushansky, S. R. Curso Avançado de Análise Transacional de Base Psicanalítica, Editora Assertiva, São Paulo.