Impasses: definição, descrição dos três tipos (graus) e um exemplo de cada um.
Por José Silveria Passos
Os Goulding (Ajuda-te pela Análise Transacional) definem: “Um impasse é um ponto onde se encontram duas ou mais forças opostas – um ponto emperrado”, p. 60. Os autores citam o exemplo de indivíduo que está no parapeito de uma ponte dizendo a si mesmo: “Mas eu não quero realmente morrer”. Enquanto outra parte dela diz, “Sim, eu quero”. Enquanto ele estiver parado na ponte, em conflito, ele estará num impasse. Se ele pula, saiu do impasse. Se ele recua decidindo não morrer, saiu do impasse, pelo menos temporariamente.
Acreditam que ele poderá voltar a enfrentar o mesmo impasse no futuro, mas agora acaba de resolvê-lo. Esta resolução temporária, geralmente são tomadas pelo estado de Ego Adulto. Os Goulding trabalham no sentido de resolver o impasse tomando uma decisão a partir da Criança, de não se matar, agora ou no futuro.
Os autores inicialmente classificaram os impasses em três graus: Impasses de primeiro, segundo e terceiro graus. Mais tarde, Robert (Bob) mudou a nomenclatura para Impasses do Tipo 1, Tipo 2 e Tipo 3, alegando que muitos terapeutas em AT os confundiam com a descrição de Berne para os jogos de primeiro, segundo e terceiro graus, no que se refere à severidade.
Impasse Tipo 1 – Fica entre o Pai e a Criança do indivíduo e está baseado na contra-injunção. Como por exemplo a mensagem parental “trabalhe duro” é dada pelo pai dizendo: “todo trabalho tem que ser muito bem feito”. “sempre dê dez por centro a mais de esforço”. O filho querendo ter a sua aprovação e agradá-lo, decide, a partir de seu Pequeno Professor (A1), a trabalhar duro para deixar o pai contente. Ele trabalha duro até uma idade avançada, quando decide que está na hora de diminuir o rítimo e começa, a partir de seu Adulto, fazer planos de trabalhar só 8 horas por dia durante 5 dias na semana e tirar férias de 30 dias todos os anos. Segundo os Goulding, aparentemente, ele saiu do impasse, no entanto ele tem dor de cabeça assim que começa a trabalhar menos. Se sai para pescar, ao invés de relaxar, acorda de madrugada e passa o dia tentando pescar todos os peixes do rio. Ele ainda está ouvindo a velha mensagem parental, ou seja, ele ainda está num impasse. Não tomou uma “REDECISÃO a partir do Adulto primitivo na sua Criança”.
A criança decide originalmente seguir as mensagens do pai tal como “trabalhar duro” e poderá se sentir OK com isto, desde que consiga carícias com o trabalho e acha que ele não está interferindo com outros desejos de sua vida. Ele somente estará em um impasse quando chega a um ponto onde quer trabalhar menos, mas se sente presa, “incapaz” de se modificar. “Para sair do impasse o Adulto redecide, a partir de sua Criança Livre – o mesmo Pequeno Professor que tomou a decisão original de ‘trabalhar duro’ “, dizem os autores, (idem, p. 62). Esquema:
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Impasse Tipo 2 – A decisão é tomada pelo Pequeno Professor em resposta a uma Injunção. Como no exemplo anterior, em que o Pai do pai deu a mensagem “trabalhe duro” (impasse Tipo 1), a Criança do pai poderá ter dado a Injunção “Não seja criança” e a decisão poderá ter sido “Nunca mais farei coisas infantis”.
Os Goulding citam como exemplo, os muitos terapeutas que participam de seus treinamentos, que usam inclusive suas férias para participarem dos treinamentos. Afirmam que tais terapeutas podem decidir com seus Adultos a se divertirem mais e trabalharem menos, mas continuam programados e não livres. A resolução desse impasse deverá ocorrer entre o Adulto primitivo na Criança (A1) e a Criança do pai, que agora é parte do Pai primitivo (P1), e esta resolução é mais emocional do que a resolução de um impasse Tipo 1. Para uma resolução bem sucedida, o indivíduo terá que se envolver nas lembranças que tem de seus pais verdadeiros e como eles eram, agiam e sentiam. Esquema:
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Impasse Tipo 3 – A decisão é tomada muito precocemente, de tal sorte que o indivíduo não se lembra de tal Injunção. A pessoa experimenta a si mesma como “sempre” tendo sido do modo que acha que é. Como por exemplo, o indivíduo deprimido que consegue sair com sucesso de um impasse do Tipo 2 e redecide não se matar, provavelmente irá sair de sua depressão. Mas ele poderá achar que não tem valor, dizendo que “sempre” se sentiu sem valor. Ele experimenta suas sensações como sendo um estado natural do seu ser. Ele “nasceu” assim, é o que poderá dizer.
No caso de impasses do Tipo 3 as Injunções foram dadas tão não-verbal que o indivíduo não tem consciência de que elas foram dadas. Segundo os autores, o trabalho com impasse Tipo 2 entre a Criança do indivíduo e a Criança dos seus pais verdadeiros não consegue chegar à raiz do impasse. O trabalho deve ser feito entre os dois lados do Pequeno Professor – o Pequeno Professor que se adaptou e o Pequeno Professor da Criança Livre que pode intuir um novo modo de ser. Os autores enfatizam a necessidade do trabalho ser feito estritamente entre os dois lados da Criança e deve ser conduzido num monólogo duplo “EU-EU”, ao invés do “EU-TU” que geralmente se usa para os trabalhos de impasse Tipo 1 e Tipo 2. Esquema:
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Os autores afirmam que o tipo do impasse não se relaciona à severidade ou dificuldade. Algumas vezes um impasse Tipo 1 é muito mais difícil de resolver, e geralmente um Tipo 3 é muito fácil. Acrescentam também, que nem todos os impasses são resolvidos pelo trabalho Gestalt/AT. Dizem que impasses fóbicos são resolvidos por procedimentos de dessensibilização, como por exemplo, trabalhando com fantasias usando o humor para evocar a Criança Livre. Usam o trabalho na piscina com fobias por água. Citam exemplos de resolução de impasse no presente com experiências atuais: Um jogador de “estúpido”, com bom senso de humor, abandonou seu impasse Tipo 3 ao exaltar sua estupidez na frente do grupo, até que fosse ridículo para ele mesmo imaginar que era brilhante. Teve que reconhecer o quanto esteve jogando “estúpido” brilhantemente.
Exemplos:
Cliente do sexo masculino, 22 anos, solteiro, estudante.
Queixa principal: dificuldade de se concentrar.
O cliente disse que não está conseguindo se concentrar para estudar e trabalhar. Disse que é como se tivesse um “diabinho” dentro de sua cabeça que diz: “você é burro mesmo”, “você não presta prá nada” , “seu vagabundo”, etc.
O terapeuta perguntou se alguém costumava dizer isto para ele em algum momento de sua vida. Respondeu que sim, seu pai, que também sempre o criticou muito, e ainda o faz até hoje. Acrescentou que seu pai não consegue permanecer em casa sem fazer nada. É um verdadeiro workalcoolic. Não pode vê-lo por exemplo assistindo uma TV que vai logo perguntando: “você não tem nada para fazer não?” “Você só quer saber de vagabundagem!!!”. Disse que seu pai expulsou o seu irmão de casa porque ele ousou enfrentá-lo, respondendo às suas criticas, etc. Acrescentou que está prestes a sair de casa, pois não agüenta mais. Disse que às vezes acorda à noite com pesadelo (sonha que seu pai está gritando para que ele se levante e vá trabalhar).
O cliente disse que fica muito excitado quando não está fazendo alguma coisa, e quando está fazendo alguma coisa, se desconcentra com seus diálogos internos. Disse que não se lembra de ter visto o seu pai desfrutar de algum momento livre. O seu lema é “sempre há o que fazer”.
Parece que a contra-injunção é: “trabalhe sempre” ou “sempre trabalhe duramente”. Daí o impasse entre o P e a C ou seja Impasse Tipo 1. O cliente quer desfrutar de seu tempo livre, porém não se sente relaxado para tal (fica excitado). Quando o cliente está trabalhando ou fazendo alguma coisa, como ele diz, se desconcentra e começa os diálogos internos: “Você não é suficientemente bom”, etc. Concomitantemente a isto, o cliente afirmou que seu pai nunca lhe deu parabéns ou coisa parecida pelos trabalhos que fizera ou por ter passado no vestibular, etc. Neste ponto o cliente o vê completamente omisso e ausente. O cliente disse que gostaria muito de chegar no final de semana e poder descansar, curtir a praia ou simplesmente não fazer nada. Disse que não consegue fazer isto. Quando menos espera está ele envolvido em alguma coisa como ter que estudar para a prova (está cursando duas faculdades: Engenharia à noite e Administração de manhã).
Neste ponto fica caracterizado o impasse entre o P1 e o A1 de sua Criança ou seja Impasse do Tipo 2.
Após mais ou menos dez meses de terapia o cliente conseguiu romper com os impasses dos tipos 1 e 2. Conseguia se concentrar em suas tarefas quando estava estudando ou fazendo outra atividade qualquer. Estava também conseguindo desfrutar dos momentos de lazer com os amigos e com a namorada. Agora estava questionando a validade de continuar cursando duas faculdades ao mesmo tempo. Estava por decidir trancar o curso de Administração e ficar somente com a engenharia.
Em determinado dia chegou à terapia dizendo que tudo estava bem em sua vida. Estava como ele sempre desejou que estivesse, porém sentia como se algo não fosse bem com ele, sempre se sentiu assim, como se tivesse faltando algo em sua personalidade. À medida que continuamos explorando o tema em questão, lembrou-se de que sempre achava-se burro perante os colegas. Sabia que isso não era verdade, mas sentia-se assim, como se isto fosse dele mesmo. Aí está uma situação em que se pode dizer tratar-se de um impasse do tipo 3.
Bibliografia:
1 – Goulding, L. R. e Goulding, M. M. Ajuda-te pela Análise Transacional, a Arte de Viver Bem com a Terapia da Redecisão, IBRASA, 2a. Edição, 1979.
2 – Goulding R. in: Doces Lembranças de Amor – A História da Terapia da Redecisão, por Mary Goulding, Editora Gente.