Workshop: "Um Novo Eu Emocional"
Objetivos Propostos:
– Facilitar o participante a perceber as suas Emoções “proibidas” e os seus “Disfarces”;
– Promover “convites” potentes, protetores e com permissão para que o participante tenha a oportunidade de experimentar sentir suas Emoções Autênticas;
– Propiciar um clima saudável e amoroso que facilite o participante a iniciar o seu reaprendizado emocional, o que é muito importante para a sua qualidade de vida, principalmente no que diz respeito às doenças psicossomáticas, tais como taquicardia, gastrites, úlceras gástricas, vários tipos de doenças de pele, alguns tipos de dores de cabeça, alguns tipos de câncer, enxaqueca, etc.
Programa:
Tratando-se de um trabalho vivencial, a programação das vivências terá que ser feita em conformidade com a dinâmica de cada grupo. Assim sendo, não cabe aqui descrevê-las.
Conceituação teórica
Uma das muitas geniais contribuições de Eric Berne, o criador da Análise Transacional, para a psicologia foi a separação das emoções em duas categorias: Emoções Autênticas e Falsas Emoções ou Emoções de Disfarce (“Racket” em inglês, “Rebusque” em espanhol). A palavra “Racket” em inglês foi traduzida para o português, como “Disfarce” e hoje, as duas palavras, tanto em português como em inglês, já se encontram definitivamente incorporadas à literatura transacional e são usadas quase que indistintamente quando se refere às Falsas Emoções.
O desenvolvimento do conceito de Disfarce foi iniciado por Berne (Tradind Stamps, T. A. Bulletin, v.3, n. 10, p. 127, Apr. 1964), quando pela primeira vez se referiu a “Rackets” como sentimentos, e que conseqüentemente estava se referindo a “máscaras”. Posteriormente, Berne (Introducción al Tratamento de Grupo, Glossário – Chantaje – p. 403), define “Rackets” como sendo “a sexualização e exploração transacional de sentimentos desagradáveis”. Nessa definição estava referindo-se à chantagem emocional. Na mesma obra, o autor se referiu ao comodismo de ter sentimentos de culpa, inadequação, mágoa, medo e ressentimento, denominando coloquialmente de “racket”, e sentenciou: “Este comodismo ocorre com maior probabilidade quando determinados sentimentos desagradáveis se tornam sexualizados”. O autor, porém, não especificou com clareza a respeito da “sexualização de sentimentos desagradáveis e as conseqüentes máscaras e esquemas de chantagem emocional”.
Mais tarde, Berne, em outra obra- “What do You Say After You Say Hello?”, volta a falar de “racket” como sendo o sentimento favorito aprendido na infância, através dos pais, transformando-se numa “espécie de reflexo condicionado” que poderá persistir pela vida afora. Assim, Berne descreveu este condicionamento: às vezes a criança demonstra seus sentimentos naturais e estes são desqualificados ou censurados. Com isso a criança aprende a reprimir tais sentimentos. Alguns sentimentos são aceitos, qualificados e reforçados, tornando-se assim uma espécie de “pau para toda a abra”. A criança passa a recorrer a esses sentimentos em qualquer situação, seja apropriado ou não. Esses sentimentos têm um caráter de exploração do ambiente e a utilidade de mascarar o sentimento autêntico reprimido.
Fanita English, consagrada analista transacional, define “Disfarces são percepções estilizadas de sentimentos permitidos que foram bem recebidos no passado. Eles são expressados cada vez que um sentimento real (ou de outra categoria) está para aparecer”. A autora diz, ainda, que a substituição ocorre em virtude do indivíduo ter sido treinado para não se conscientizar de determinados sentimentos e percepções que foram proibidos no passado.
Franklin Ernest, também consagrado analista transacional, define “racket” fenomenológica, operacional e pragmaticamente. Segundo o autor, fenomenologicamente o “racket” é uma emoção repetitiva e tem características intimidadoras, fraudulentas e coercitivas e que propicia a rendição da vítima. Operacionalmente, ele é a demonstração repetitiva de emoções, sem autenticidade e que impede o aparecimento de outras manifestações emotivas. O “racket” tem a característica de vitimizar as pessoas, pois as restringem em duas opções: ou “contracenam” ou evitam, fugindo da situação. Pragmaticamente, o “racket” é uma demonstração de emoções que lança uma carga sobre outra pessoa.
Holloway, outro analista transacional americano, diz que quando sentimentos desagradáveis são criados pela criança para poder satisfazer os seus desejos, o esquema subjacente de exploração é identificado como “racket” . O autor diferencia “racket” de “recketty feeling”. Para ele “racket” é o esquema subjacente de exploração e chantagem, enquanto “racketty feeling” é o sentimento que aparece em substituição ao real.
O referido autor afirma que os disfarces tem três origens diferentes:
1 – Impotência – Está ligada à incapacidade da criança de satisfazer as suas próprias necessidades;
2 – Frustração – Está ligada à frustração sofrida pela criança na tentativa de satisfazer suas necessidades; e
3 – Impotência e Frustração – Ligada à combinação das duas anteriores.
Afirma também o mesmo autor, que os disfarces que têm origem da impotência são do tipo depressivo e envolvem sentimentos de tristeza, apatia e inadequação; os disfarces que tem origem da frustração são do tipo ressentimento e envolve sentimentos de raiva, medo e culpa; e os que têm origem da impotência e da frustração são do tipo confusão.
As diferentes conotações que Berne deu ao conceituar “Rackets” podem nos levar a duas interpretações: uma tomando o “racket” como sentimento; e outra como chantagem ou exploração de sentimentos. Devemos atentar que a palavra “racket” literalmente tem o significado de chantagem emocional.
A partir dessas possibilidades de interpretação, outros autores, depois de Berne, desenvolveram conceitos, até certo ponto, diferentes sobre “rackets”.
No caso de Fanita English afirma que o disfarce é emoção, porém é um tipo de emoção diferente daquela que está sendo sentida e chama isto de “Fator de Substituição” dos disfarces. A autora afirma que é por este motivo “que os disfarces são tão tenazes embora haja confrontação”. A autora também afirma que é por este motivo que os disfarces desaparecem quando o indivíduo toma consciência das percepções ou dos sentimentos reais que ele está suprimindo no aqui e agora. Este conceito vai além do conceito de Eric Berne, pois a modelação se dá em etapas: consciência, expressão e ação, que são os aspectos distintos de percepção e sentimentos, sendo que as figuras parentais podem reprimir o sentimento em qualquer das três etapas acima.
Por outro lado Frank Ernest afirma que o disfarce surge da chantagem emocional com a finalidade de coerção do outro, provocando-o com “você não é OK para mim”. A outra pessoa responde a esta provocação na tentativa de provar que “eu sou OK para você”, porém não consegue. Portanto o objetivo da “máscara” é comprovar que o outro não é OK. Assim sendo o autor conclui que não pode haver disfarce nas Posições Existenciais “ÑOK/OK” e “OK/OK”, só existindo nas Posições Existenciais “OK/ÑOK” e “ÑOK/ÑOK”.
Já Holloway, busca fazer um apanhado das descrições feitas pelos diversos autores e propõe a seguinte definição: ” Quando sentimentos desagradáveis são criados pela criança para poder satisfazer os seus desejos, o esquema subjacente de exploração é identificado como ‘ racket’ “.
O autor diz que o disfarce implica na fuga do presente, constituindo um sentimento incompreensível no aqui e agora. Por exemplo, se o indivíduo foge para o passado, o disfarce correspondente é de depressão, se para o futuro, o disfarce correspondente é de ansiedade. Parece que o autor quando diz que os “Rackets são esquemas subjacentes de exploração…” está de acordo com Fanita English. Quando fala de “Racketty Filling”, como sendo o sentimento que aparece em substituição ao real, parece que o autor está falando de conduta e emoção.
Como Trabalho com “Emoções”
1) – Workshop: “Um Novo Eu Emocional” – Tem normalmente a duração de um final de semana (sábado e domingo) – é feito em um local fora do centro urbano, normalmente em um sítio ou pousada, onde existe acomodações para cerca de 30 pessoas (alimentação e pernoite), bem como a possibilidade dos trabalhos do grupo não sofrerem interferências externas, como por exemplos, pessoas que não estejam fazendo parte efetiva do workshop ficarem circulando nas imediações.
Este Workshop, tal como os demais trabalhos, tem a possibilidade de ser realizado em outras cidades brasileiras, além do Rio de janeiro. Basta que haja interesse e possibilidade da formação de um grupo (se for esse o caso, entre em contato conosco que estudaremos as possibilidades).
2) – Terapia Individual e de Grupo – gosto muito da abordagem dada por Fanita English, e por isso tenho adotado, em minha prática clínica, os procedimentos recomendados pela autora. Considero importante descobrir em que nível o cliente suprimiu a emoção autêntica (consciência, expressão ou ação). Pratico esta abordagem tanto em terapias individuais como em terapias de grupo.
A seguir transcrevo um exemplo, mudando dados e algumas situações, com a finalidade de impossibilitar a identificação do cliente.
Cliente do sexo feminino, 28 anos, solteira com um filho de 8 meses de idade. Queixa principal: medo de não conseguir criar o filho pequeno.
Chegou à terapia dizendo que estava se sentido muito mal. Sentou-se no sofá e ficou como que “prostrada”, cabisbaixa, ar de desamparo. Perguntei o que estava sentido e ela respondeu que não sabia direito. Sabia que era algo ruim, uma sensação muito ruim.
Pedi que entrasse em contato com que estava sentindo… Aos poucos, fui incentivando-a para que aumentasse a sensação que estava sentindo… Em seguida incentivei-a para que deixasse fluir o que estava sentindo… Até que em dado momento “caiu em pranto”. Ou seja, procurei convidar a cliente a exacerbar o “Racket”. Enquanto chorava, dizia que estava se sentindo sozinha, não tinha ninguém com quem pudesse contar… Estava muito cansada de tudo… Não podia descansar…, etc.
Dizia que estava cansada de se cobrar. Acreditava não ser capaz de dar conta de criar o seu filho. Se sentia muito culpada por não conseguir que seu filho ficasse tranqüilo. Dizia que seu filho era muito agitado, que dificilmente ele tinha um momento de tranqüilidade ou de paz. O pai de seu filho a abandonou quando soube que ela estava grávida. Agora teria que criar o filho sozinha.
Perguntei se alguém costumava cobrá-la quando era criança. Respondeu que sua mãe a cobrava o tempo todo. Perguntei se sua mãe estivesse viva, o que ela diria a respeito do que estava acontecendo com ela. Respondeu que certamente iria cobrá-la por ter sido mãe solteira e iria querer criar o seu filho, pois não acreditaria que ela fosse capaz disso. Perguntei o que ela achava disto. Após pensar um pouco, ela disse que estava confusa com tudo isto. Nesse ponto, percebi que a cliente usava uma série de “rackets” para justificar que não era capaz. Quando criança sua mãe a cobrava de tudo e dizia que ela não era capaz.
Continuei incentivando a cliente a deixar fluir o que estava sentido até que em determinado momento, ficou séria, olhando para mim. Perguntei o que estava sentindo. Respondeu que parecia estar com raiva de sua mãe. Logo em seguida voltou a chorar novamente. Pedi que colocasse em fantasia a sua mãe em sua frente, sentada em uma almofada. Disse que era impossível fazer isto, pois a sua mãe jamais faria tal coisa. Expliquei que tratava-se de um exercício. Que era para ela imaginar sua mãe sentada à sua frente.
Após duas tentativas disse que não conseguia fazer isso. Neste momento resolvi ser mais incisivo e disse: “é claro que você consegue! Use a sua mente, a sua imaginação! Você é capaz de fazer isto sim! Podemos fazer o que quisermos com os nossos pensamentos!”. A partir daí a cliente percebeu que eu estava sendo firme com ela e decidiu fazer o exercício (este procedimento só foi possível porque a cliente já possuía um vínculo forte comigo, o suficiente para não ameaçar o processo terapêutico).
Inicialmente, à medida que ia imaginando em fantasia e olhando nos olhos da mãe, disse estar sentindo muito medo dela. Incentivei a falar com a mãe sobre o que estava sentindo… Em determinado momento do exercício disse estar sentindo raiva de tudo aquilo, inclusive dela (sua mãe).
Continuei incentivando a cliente para que expressasse para a sua mãe o que estava sentindo… até que começou a esboçar algum movimento com os punhos cerrados. Aproveitei a oportunidade e continuei incentivado-a … até que em determinado momento começou a socar a almofada em sua frente. Continuei incentivando-a até que se sentiu exausta. Em seguida começou a chorar intensamente. Percebi que estava expressando uma emoção autêntica naquele momento.
Procurei então fornecer proteção e permissão para que ela pudesse continuar expressando a sua tristeza (emoção proibida no passado). Comparando o choro do inicio da sessão, com o que a cliente estava expressando agora, via-se claramente a diferença. O primeiro era na realidade uma falsa tristeza e este uma tristeza autêntica.
Até chegar a expressar a emoção autêntica (tristeza) a cliente expressou inicialmente falso medo (não conseguir criar o filho), depois falsa tristeza, durante o exercício falsa raiva e finalmente tristeza autêntica. Durante as pesquisas de sua infância descobri que havia reprimido a expressão de tristeza baseada no contexto religioso em que foi criada. A cliente disse que se lembrava da sua mãe sempre dizendo a ela que Deus não gostava de criança que chorava; dizia que Deus queria ver todo mundo alegre, contente, mesmo quando as coisas tivessem muito ruins. Pois se acontecesse alguma coisa ruim era porque Deus queria. Sua mãe dizia que todos da família (pai, mãe, irmão e ela) eram “tementes a Deus”. Dizia que esta expressão funcionava como uma espécie de jargão na família. Acrescentou que seu irmão atualmente é padre.
Disse que se lembra que quando era criança se sentia triste e logo em seguida se sentia culpada por ter se sentido triste, pois Deus não iria gostar disto e poderia castigá-la duramente. Acrescentou que mesmo percebendo que estava triste (sabia que estava triste) ficava disfarçando para enganar a Deus. Imaginava que se não demonstrasse que estava triste Ele não perceberia.
A partir daí dirigi os trabalhos terapêuticos, em primeira instância, para a descontaminação de seu estado de Ego Adulto. Daí em diante ela começou a perceber, aceitar e assumir a sua capacidade de fazer coisas, cuidar de seu filho, etc. Só então, a partir daí, foi possível dar início aos trabalhos de análise dos Jogos e do Script, etc.