Maratona de "Redecisão"

Objetivos Propostos:

– Facilitar o participante a assumir responsabilidade pelas suas sensações e ações, resolver problemas, sair de Impasses e “Redecidir” para modificar condutas e comportamentos inadequados em sua vida, através de uma terapia de grupo intensiva;
– Propiciar meios para que o indivíduo possa “constatar e aproveitar suas energias internas para alcançar as modificações almejadas por meio de novas e libertadoras ‘decisões’ “;
– Promover convites potentes, protetores e com permissão para auxiliar o participante a reivindicar a sua autonomia de vida, buscando guiá-lo através de suas decisões inadequadas tomadas precocemente na infância até as “Redecisões”;
– Auxiliar o participante na tarefa de “ancorar” a redecisão de tal sorte que possa responder de maneira espontânea e não de maneira adaptada no futuro.

Programa:

Tratando-se de um trabalho vivencial, a programação das vivências terá que ser feita em conformidade com a dinâmica de cada grupo. Assim sendo, não cabe aqui descrevê-las.

Conceituação teórica

Eric Berne, o criador da Análise Transacional, falava em seus seminários sobre como curar pessoas em vez de “fazer progresso”. Berne perguntava o tempo todo a si mesmo: “como posso curar hoje mesmo todos que estão nesta sala?” Baseado nesta premissa, um discípulo de Berne, chamado Robert L. Goulding, criou um método de terapia intensiva denominada de Terapia de Redecisão. Robert Goulding (Bob, como era chamado carinhosamente pelos seus alunos e clientes), casou-se com Mary, que veio a se chamar Mary McClure Goulding, e passaram a trabalhar juntos, usando métodos simples, claros e concisos em suas maratonas de “Redecisão”. O procedimento dos Goulding trata-se de uma abordagem criativa, onde o cliente jamais será “culpado” quando ocorrer algum fracasso em seu processo de mudança. Em vez disso, ele será estimulado a procurar en si mesmo e nos outros uma nova maneira de facilitar a mudança. Como dizia Bob: “… não fazemos listas de pacientes ‘não tratáveis’ para apresentá-las na Reunião Anual da Associação Psiquiátrica Americana.”

O objetivo da Terapia de Redecisão é levar o cliente a adquirir habilidade para lidar com os seus próprios sentimentos, em vez de ficar se iludindo, atribuindo aos outros o fato de ficar ansioso, furioso, irado, triste, deprimido, confuso, entediado, angustiado, preocupado, etc.

Os autores dizem que em Análise Transacional as Injunções são as mensagens oriundas do estado de Ego Criança dos pais para o estado de Ego Criança dos filhos, que em determinadas circunstâncias lhes causam sofrimento, dor, tristeza, ansiedade, desapontamento, raiva, frustração, desejos secretos, angústias, etc. Essas mensagens são irracionais para a criança pequena, entretanto, na maioria das vezes, podem parecer perfeitamente racionais para aqueles que as transmitem.
Os Goulding listaram cerca de nove Injunções básicas, embora existam outras, perante as quais os filhos poderão reagir ou não. Esta listagem de Injunções, embora pequena, possibilita ao terapeuta ouvir melhor o que o cliente está dizendo e, com isso, elaborar um plano de trabalho bem mais apurado e eficiente para cada pessoa. As nove Injunções básicas listadas pelos Goulding são as seguintes:

1) – NÃO – Normalmente esta Injunção é transmitida pelos pais que têm medo. Com isso, não permitem que os filhos façam determinadas coisas que são permitidas normalmente por outros pais. Os Goulding citam alguns exemplos tais como: Não vá perto da escada; não suba em árvores; não ande de patins; etc. Outras vezes, os pais, por algum motivo, não queriam aquele filho e por medo de entrar em contato com os seus desejos primitivos de que tal filho não existisse, se sentem completamente em pânico e culpados. Para compensar isso superprotegem o filho. Outros pais, por serem fóbicos ou superprotetores, em virtude da perda de um filho mais velho por doença ou acidente, por exemplo, ficam deverás preocupados conforme a criança vai crescendo e a cada uma de suas ações dizem: “seria melhor se você pensasse um pouco mais sobre isto”. Isto leva a criança a se sentir insegura, sem saber como agir. Depois de adulta, a pessoa continua procurando pessoas para lhe dizerem como fazer coisas. São pessoas que têm dificuldade de tomar decisões na vida.

2) – NÃO VIVA – É a mensagem mais catastrófica do todas, pois envolve a vida da criança. Esta Injunção pode ser passada de modo muito sutil, como por exemplo aquela mãe que usa o filho como motivo para não tomar suas próprias decisões, dizendo: “se não fosse por você, eu já tinha me separado de seu pai”. Outras vezes são enviadas de maneira quase que direta: “gostaria de não ter ficado grávida de você… assim não necessitaria ter me casado com o seu pai”. Essa mensagem pode ser transmitida de modo não-verbal, como por exemplo dar de mamar ao filho e fazer cara feia por estar sentido dor no bico do seio devido ao movimento de sucção da boca do bebê. Agressão física à criança também pode ser interpretada como não querer que ela viva. Esta mensagem pode ser transmitida de diversas maneiras.

Os Goulding citam casos em que tal Injunção foi transmitida ao filho pelo fato de um dos pais estar deprimido, em virtude da criança ter sido concebida antes do casamento ou depois que o casal não queria mais filhos. Uma outra maneira de se transmitir esta mensagem é quando a mãe morre no parto do filho e este é criado pelos avós que o culpam pela morte da mãe: “Você era muito grade quando nasceu, arrebentou a sua mãe toda”. Isto, quando dito várias vezes na presença da criança, poderá tornar-se o que chamamos de “mito do nascimento”, que funciona mais ou menos assim: “Se você não existisse, nossas vidas seriam melhores”. Existem muitas outras maneiras de se transmitir esta mensagem para os filhos.

3) – NÃO SE APROXIME – É o tipo da mensagem que é transmitida quando um dos pais está sempre criando barreiras para que o filho não se aproxime, com desculpas de estar ocupado ou estar de roupa limpa e o filho estar imundo, etc. Tudo isso pode ser interpretado como “não se aproxime”.

A falta de contato físico e de carícias positivas pode levar a criança a ter esse tipo de interpretação, afirmam os autores. Outro modo de passar esta mensagem é a criança perder o contato com quem se sentia mais próxima entre os pais , por morte ou por separação do casal. Ela poderá dar a si mesma a mensagem, : “O que adiante me aproximar, eles terminam morrendo mesmo” e poderá decidir nunca mais se aproximar de ninguém.

4) – NÃO SEJA IMPORTANTE – Um exemplo de transmissão desta mensagem, segundo os Goulding, pode ser a famílianão permitir que a criança fale à mesa durante o jantar, dizendo : “crianças não foram feitas para serem ouvidas, só vistas”. Crianças depreciadas de alguma outra forma podem interpretar esta atitude como sendo uma mensagem do tipo “não seja importante”.

Crianças, cujas suas necessidades não são levadas em conta ou não são ouvidas pelos pais, podem assumir que não são importantes. Outro aspecto que poderá influenciar são as segregações raciais, na escola por exemplo, as crianças de outras nacionalidades ou raças, são colocadas em dificuldades através de brincadeira dos colegas, etc.

5) – NÃO SEJA CRIANÇA – Quando os pais dão responsabilidades aos filhos, sem que estes estejam suficientemente capacitados para tal, estão passando esta mensagem.Algumas responsabilidades excessivas podem ser: tomar conta de irmãos mais novos, tomar conta da casa, trabalhar muito cedo, não deixando tempo para brincadeiras de crianças de sua idade. Outra maneira de transmitir essa mensagem é tentar fazer os filhos controlarem seus intestinos muito cedo, como quem quer fazer deles os “homenzinhos” ou as “mocinhas” da casa, dando-lhes carícias positivas por tais comportamentos e castigando-os por comportamentos de criança.

6) – NÃO CRESÇA – É muito comum esta Injunção ser dada pela mãe ao último filho ou ao filho único, superprotegendo-o. Pode também ser transmitida, pelo pai, à filha na pré-puberdade, proibindo-a de fazer coisas que suas amiguinhas fazem, como usar maquiagem, vestir determinadas roupas, namorar, etc.

7) – NÃO SEJA BEM SUCEDIDO – Pode ser dada pelo pai que tem a mania de perfeccionismo e critica o filho em tudo que ele faz, dizendo que ele não faz nada direito. Isso pode ser interpretado como “não seja bem sucedido”. Outra situação: o pai está jogando pingue-pongue com o filho e pára de jogar quando este começa a ganhar. Isto poderá ser interpretado como “não vença ou não gostarei de você”, o que acaba no final sendo traduzido como “não seja bem sucedido”.

8) – NÃO SEJA VOCÊ – Pode acontecer quando os pais desejam que o filho seja de determinado sexo e este nasce do sexo “errado”. Queriam um menino e veio uma menina ou vice-versa. Outras vezes, os pais criam o filho ou a filha para substituir aquele ou aquela que morreu, às vezes colocam o mesmo nome. Ou ainda pode acontecer quando se acrescenta ao nome do filho: Júnior, Filho, Sobrinho, Neto, etc.

9) – NÃO SEJA SAUDÁVEL – Pode acontecer dos pais dar carícias positivas aos filhos quando estes estão doentes, deixando de fazê-lo quando eles estão saudáveis, isto poderá ser interpretado como “não seja saudável”. Outra maneira de transmitir a mensagem é não dar limites aos comportamentos loucos da criança, pelo contrário, esses comportamentos são recompensados ou modelados. Isto poderá levar a interpretação de “não seja são”. Os autores citam o caso em que filhos de esquizofrênicos sentem dificuldades de testar a realidade, mesmo não sendo eles psicóticos. Agem como se fossem psicóticos e são tratados como tais.

Os autores enfatizam também as Contra-Injunções, que são as mensagens oriundas do estado de Ego Pai dos pais e transmitidas ao estado de Ego Criança dos filhos. Estas mensagens são restritivas e quando são absorvidas pelos filhos podem levar ao impedimento de seu crescimento, bem como restringir a sua flexibilidade.

Segundo os autores, estas mensagens incluem os Compulsores descobertos por Taibi Kahler. São eles: “Seja Forte”, “Seja Esforçado”,, “Seja Perfeito”, “Seja Apressado” e “Agrade Sempre”. Estas mensagens são impossíveis de serem cumpridas pelo indivíduo, entretanto, aqueles que as absorvem levarão o resto de sua vida tentando cumpri-las (à exceção daqueles que ousaram mudar) e como não conseguem, tornam-se eternamente fracassados na vida (no trabalho, nos relacionamentos afetivos, com problemas de obesidade, etc.).

As mensagens de Contra-Injunções são encontradas nos estereótipos religiosos, raciais e sexuais. Estas mensagens são transmitidas de maneira direta verbalmente, ao contrário das Injunções que são transmitidas secretamente. Berne acreditava inicialmente que as Contra-Injunções eram mensagens que iam de encontro às Injunções. Se isto fosse verdade a pessoa que recebesse uma Injunção, de por exemplo, “não viva” e também uma Contra-Injunção “trabalhe duro”, ela poderia salvar a própria pele trabalhando duramente, deixando de lado os seus impulsos suicidas. Entretanto, o que acontece é que as pessoas obedecem com maior freqüência as Injunções do que as Contra-Injunções, afirmam os Goulding.

Os autores afirmam que o indivíduo, mesmo trabalhando duramente, continuará deprimido. Outro caso, é o indivíduo que recebe a Contra-Injunção “trabalhe duro” e a Injunção “não cresça”. Essas duas mensagens são impossíveis de serem obedecidas ao mesmo tempo, afirmam os autores. Acrescentam que os pais podem transmitir várias mensagens com os três estados de Ego, por exemplo, “não seja importante” , “não cresça” e “não exista”, caso em que o indivíduo irá sofrer pela vida afora tentando rejeitar estas mensagens.

Acontece, também, dos pais transmitirem mensagens misturadas, como afirmam os Goulding. A mesma mensagem é transmitida, tanto pelo estado de Ego Pai como pelo estado de Ego Criança dos pais, nestes casos envolvem-se pensamentos e sentimentos, como por exemplo: “não pense”, “não pense isto” ou “não pense o que você pensa – pense o que eu penso” (ou seja, “não discorde de mim”), afirmam os autores.

Os Goulding dizem que as Injunções e as Contra-Injunções transmitidas pelos pais só terão influência sobre os filhos se forem aceitas por eles. Aqui os Goulding discordam de Berne, que achava que as mensagens eram “inseridas no cérebro da criança como um eletrodo”. Para os autores, a criança tem todo o poder de aceitar as mensagens ou rejeitá-las. Acreditam que até mesmo muitas mensagens não são nem sequer dadas. Afirmam que a criança fantasia, inventa e interpreta de maneira errônea dando a si mesma as próprias mensagens.

Os autores citam o exemplo de quando um irmão morre, a criança pode interpretar que foi o ciúme que matou o irmão. Ela não compreende a doença que o irmão tinha. Quando isto acontece, ela poderá se sentir culpada e dar a si mesma a mensagem “não viva”. Outra situação que pode fazer a criança criar suas próprias mensagens é quando um pai, que é muito querido pelo filho, morre. A criança poderá decidir nunca mais se aproximar de ninguém, dando a si mesma a Injunção ” não se aproxime”. Isto ocorre em virtude da tentativa de não mais entrar em contato com a dor da perda do pai amado na ocasião de sua morte. Dirá a si mesmo: “Nunca mais amarei outra pessoa novamente, assim nunca mais ficarei magoado”.

As mensagens quando aceitas pela criança, não importa se foram dadas pelos pais ou pela própria criança, provocam influência em suas atitudes pela vida afora. O que vai importar agora é a decisão que a criança irá tomar baseada na mensagem. A criança poderá tomar inúmeras decisões perante as mensagens, afirmam os autores.

Os Goulding citam várias decisões que a criança poderá tomar frente a uma Injunção. Transcrevo aqui algumas delas:

– “Não viva” – “vou morrer e então você vai me amar”, “vou pegá-lo mesmo que isto me mate”, “se as coisas ficarem ruins demais, eu me matarei”, “vou me matar e então você vai se arrepender”, “vou quase morrer e então você vai se arrepender”, “vou fazer você me matar”, etc.
– “Não” – “não posso decidir”, “o mundo me assusta… eu poderia cometer um erro”, “sou mais fraco do que as outras pessoas”, “nunca conseguirei decidir nada por mim mesmo novamente”.
– “Não cresça” – “está bem, continuarei pequeno”, “incapaz”, “sem pensar”, “não-sexual”, etc. Os autores afirmam que essas decisões são vistas com freqüência no corpo, no tom de voz, no maneirismo e no comportamento.
– “Não seja criança” – “nunca mais pedirei nada, vou cuidar de mim mesmo”, “eu sempre cuidarei deles”, “eu nunca me divertirei”, etc.
– “Não seja bem-sucedido” – “nunca vou fazer nada direito”, “sou burro”, “nunca irei sonhar”, “não importa o quanto sou bom, eu deveria ter feito melhor, por isso vou me sentir frustrado (culpado, envergonhado, etc.)”.
– “Não se aproxime” – “nunca mais confiarei em ninguém”, “nunca mais serei íntimo de alguém”, “nunca serei sexual”, etc.
– “Não seja saudável” – “sou louco”, “minha doença é a pior que existe e vou morrer por causa dela”, etc.
– “Não seja você” – “vou mostrar a eles que sou tão bom quanto qualquer menino / menina”, “não importa o que faça, nunca consigo agradar”, “ficarei sempre com vergonha”, etc.
– “Não seja importante” – “ninguém nunca me deixa dizer ou fazer alguma coisa”, “todos aqui vêm antes de mim”, “nunca serei nada”, “posso me tornar importante, mas nunca vou deixar alguém ficar sabendo disso”, etc.
– “Não pense” – “sou burro”, “não sei pensar sozinho”, “nunca conseguirei me concentrar”, “Não sou bom em matemática (ou ciência, português, futebol, etc., dependendo do tipo de mensagens agregadas à Injunção)”, “estou sempre errado”, “não vou abrir a boca até descobrir o que os outros pensam”, etc.
– “Não sinta” – “as emoções são perda de tempo”, “não sinto nada”, “nunca mais vou chorar”, “nunca fico com raiva… a raiva pode matar”, “não sei como eu me sinto”, “como deveria me sentir?”, etc.

As decisões que a criança toma devido as mensagens, levam o indivíduo a um Impasse. Os Goulding definem: “Um impasse é um ponto onde se encontram duas ou mais forças opostas – um ponto emperrado”. Os autores citam o exemplo do indivíduo que está no parapeito de uma ponte dizendo a si mesmo: “Mas eu não quero realmente morrer”. Enquanto outra parte dela diz, “Sim, eu quero”. Enquanto ele estiver parado na ponte, em conflito, ele estará num Impasse. Se ele pula, saiu do Impasse. Se ele recua decidindo não morrer, saiu do Impasse, pelo menos temporariamente. Acreditam que ele poderá voltar a enfrentar o mesmo Impasse no futuro, mas agora acaba de resolvê-lo. Estas resoluções temporária, geralmente são tomadas pelo estado de Ego Adulto. Os Goulding trabalhavam no sentido de resolver o Impasse tomando uma decisão a partir da Criança, de não se matar, agora ou no futuro.

Os autores inicialmente classificaram os Impasses em três graus: Impasses de primeiro, segundo e terceiro graus. Mais tarde, Bob mudou a nomenclatura para Impasses do Tipo 1, Tipo 2 e Tipo 3, alegando que muitos terapeutas em Análise Transacional os confundiam com a descrição de Berne para os jogos de primeiro, segundo e terceiro graus, no que se refere à severidade.

Impasse Tipo 1 – Fica entre o estado de Ego Pai e o estado de Ego Criança do indivíduo e está baseado na Contra-Injunção. Por exemplo: a mensagem parental “trabalhe duro” é dada pelo pai que diz “todo trabalho tem que ser muito bem feito” ou “sempre dê dez por cento a mais de esforço”. O filho querendo ter a sua aprovação e agradá-lo, decide, a partir de seu Pequeno Professor (A1), a trabalhar duro para deixar o pai contente. Ele trabalha duro até uma idade avançada, quando decide que está na hora de diminuir o rítmo e começa, a partir de seu Adulto, fazer planos de trabalhar só 8 horas por dia durante 5 dias na semana e tirar férias de 30 dias todos os anos. Segundo os Goulding, aparentemente, ele saiu do impasse, no entanto, ele tem dor de cabeça assim que começa a trabalhar menos. Se sai para pescar, ao invés de relaxar, acorda de madrugada e passa o dia tentando pescar todos os peixes do rio. Ele ainda está ouvindo a velha mensagem parental, ou seja, ele ainda está num Impasse. Não tomou uma “REDECISÃO a partir do Adulto primitivo na sua Criança”.

A criança decide originalmente seguir as mensagens do pai tal como “trabalhar duro” e poderá se sentir OK com isto, desde que consiga carícias com o trabalho e achar que ele não está interferindo com outros desejos de sua vida. Ele somente estará em um Impasse quando chega a um ponto onde quer trabalhar menos, mas se sente preso, “incapaz” de se modificar. “Para sair do impasse o Adulto redecide, a partir de sua Criança Livre – o mesmo Pequeno Professor que tomou a decisão original de ‘trabalhar duro’ “, dizem os autores.

Esquema:

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Impasse Tipo 2 – A decisão é tomada pelo Pequeno Professor em resposta a uma Injunção. Como no exemplo anterior, em que o estado de Ego Pai do pai deu a mensagem “trabalhe duro” (impasse Tipo 1), o estado de Ego Criança do pai poderá ter dado a Injunção “Não seja criança” e a decisão poderá ter sido “Nunca mais farei coisas infantis”.

Os Goulding citam como exemplo, os muitos terapeutas que participavam de seus treinamentos, que usavam inclusive suas férias para participarem dos treinamentos. Afirmam que tais terapeutas poderiam decidir com seus Adultos a se divertirem mais e trabalharem menos, mas continuavam programados e não livres. A resolução desse Impasse deverá ocorrer entre o Adulto primitivo na Criança (A1) e o Pai na Criança, que agora é parte do Pai primitivo (P1), e esta resolução é mais emocional do que a resolução de um Impasse Tipo 1. Para uma resolução bem sucedida, o indivíduo terá que se envolver nas lembranças que tem de seus pais verdadeiros e como eles eram, agiam e sentiam.

Esquema:

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Impasse Tipo 3 – A decisão é tomada muito precocemente, de tal sorte que o indivíduo não se lembra de tal Injunção. A pessoa experimenta a si mesma como “sempre” tendo sido do modo que acha que é. Como por exemplo, o indivíduo deprimido que consegue sair com sucesso de um Impasse do Tipo 2 e redecide não se matar, provavelmente irá sair de sua depressão. Mas ele poderá achar que não tem valor, dizendo que “sempre” se sentiu sem valor. Ele experimenta suas sensações como sendo um estado natural do seu ser. Ele “nasceu” assim, é o que poderá dizer.

No caso de Impasses do Tipo 3 as Injunções foram dadas de modo não-verbal e tão subliminarmente que o indivíduo não tem consciência de que elas foram dadas. Segundo os autores, o trabalho com Impasse Tipo 3 entre a Criança do indivíduo e a Criança dos seus pais verdadeiros não consegue chegar à raiz do Impasse. O trabalho deve ser feito entre os dois lados do Pequeno Professor – o Pequeno Professor que se adaptou e o Pequeno Professor da Criança Livre que pode intuir um novo modo de ser. Os autores enfatizam a necessidade do trabalho ser feito estritamente entre os dois lados da Criança e deve ser conduzido num monólogo duplo “EU-EU”, ao invés do “EU-TU” que geralmente se usa para os trabalhos de Impasse Tpo 1 e Tipo 2.

Esquema:

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Os autores afirmam que o tipo do Impasse não se relaciona com severidade ou dificuldade. Algumas vezes um Impasse Tipo 1 é muito mais difícil de resolver e geralmente um Tipo 3 é muito fácil. Acrescentam também, que nem todos os Impasses são resolvidos pelo trabalho Gestalt/AT. Eles resolviam os Impasses fóbicos através de procedimentos de dessensibilização, como por exemplo, trabalhando com fantasias usando o humor para evocar a Criança Livre. Usavam o trabalho na piscina com fobias de água. Citam exemplos de resolução de impasse no presente com experiências atuais: Um jogador de “estúpido”, com bom senso de humor, abandonou seu Impasse Tipo 3 ao exaltar sua estupidez na frente do grupo, até que fosse ridículo para ele mesmo imaginar que era brilhante. Teve que reconhecer o quanto esteve jogando “estúpido” brilhantemente.

Com o intuito de tornar mais claro o conceito de Impasse, cito a seguir um exemplo encontrado no dia a dia de meu consultório clínico:

Cliente do sexo masculino, 22 anos, solteiro, estudante.
Queixa principal: dificuldade de se concentrar.
O cliente disse que não estava conseguindo se concentrar para estudar e trabalhar. Disse que era como se tivesse um “diabinho” dentro de sua cabeça que dizia: “você é burro mesmo”, “você não presta pra nada”, “seu vagabundo”, etc.

Perguntei se alguém costumava dizer isto para ele em algum momento de sua vida. Respondeu que sim, seu pai, que também sempre o criticou muito e ainda o faz até hoje. Acrescentou que seu pai não consegue permanecer em casa sem fazer nada. É um verdadeiro “workholic”. Não pode vê-lo, por exemplo, assistindo uma TV que vai logo perguntando: “Você não tem nada para fazer não?”, “Você só quer saber de vagabundagem!!!”. Disse que seu pai expulsou o seu irmão de casa porque ele ousou enfrentá-lo, respondendo às suas críticas, etc. Acrescentou que está prestes a sair de casa, pois não agüenta mais. Disse que às vezes acorda à noite com pesadelo (sonha que seu pai está gritando para que ele se levante para ir trabalhar).

O cliente disse que fica muito excitado quando não está fazendo alguma coisa e quando está fazendo alguma coisa, se desconcentra com seus diálogos internos. Disse que não se lembra de ter visto o seu pai desfrutar de algum momento livre. O seu lema é “sempre há o que fazer”.

Parece que a contra-injunção é: “trabalhe sempre” ou “sempre trabalhe duramente”. Daí o impasse entre o P e a C ou seja Impasse Tipo 1. O cliente quer desfrutar de seu tempo livre, porém não se sente relaxado para tal (fica excitado).

Quando o cliente está trabalhando ou fazendo alguma coisa, como ele diz, se desconcentra e começa os diálogos internos: “Você não é suficientemente bom”, etc. Concomitantemente a isto, o cliente afirmou que seu pai nunca lhe deu parabéns ou coisa parecida pelos trabalhos que fizera ou por ter passado no vestibular, etc. Neste ponto, o cliente o vê completamente omisso e ausente. O cliente disse que gostaria muito de chegar no final de semana e poder descansar, curtir a praia ou simplesmente não fazer nada. Disse que não consegue fazer isto. Quando menos espera, está ele envolvido em alguma coisa como ter que estudar para a prova (está cursando duas faculdades: Engenharia à noite e Administração de manhã).

Neste ponto fica caracterizado o Impasse entre o P1 e o A1 de sua Criança ou seja Impasse do Tipo 2.

Após mais ou menos cinco meses de terapia, o cliente conseguiu romper com os impasses dos Tipos 1 e 2. Conseguia se concentrar em suas tarefas quando estava estudando ou fazendo outra atividade qualquer. Estava também conseguindo desfrutar dos momentos de lazer com os amigos e com a namorada. Agora estava questionando a validade de continuar cursando duas faculdades ao mesmo tempo. Estava por decidir trancar o curso de Administração e ficar somente com a engenharia.

Determinado dia chegou à terapia dizendo que tudo estava bem em sua vida. Estava tudo como ele sempre desejou que estivesse, porém, sentia como se algo “não fosse bem com ele”, acrescentou que sempre se sentiu assim, como se tivesse “faltando” algo em sua personalidade. À medida que continuamos explorando o tema em questão, lembrou que sempre se achava burro perante os colegas. Sabia que isso não era verdade, mas se sentia assim, como se isto fizesse parte dele. Aí está uma situação em que se pode dizer tratar-se de um Impasse do Tipo 3.

As Maratonas de Redecisão, criadas pelos Goulding, tinham normalmente a duração de uma, duas, três e até quatro semanas. Nelas compareciam pessoas de diversas partes do mundo, na maioria delas terapeutas, interessados em efetuarem mudanças profundas e rápidas em seus próprios comportamentos, como também estavam interessados, em particular, aprenderem e/ou adquirirem experiência na aplicação da técnica.

Os Goulding trabalhavam quase que exclusivamente com essas maratonas, dispensando os trabalhos de consultório, que normalmente são de uma sessão de terapia por semana. Os autores acreditavam que os clientes poderiam participar dessas maratonas e resolver os seus conflitos e promover as mudanças correspondentes, sem a necessidade de ficarem “presos” a uma terapia de longo prazo.

Como Trabalho com “Redecisão”

1) – Maratona de “Redecisão” – Tem normalmente a duração de um final de semana (sábado e domingo) – são feitas em um local fora de centros urbanos, normalmente em um sítio ou pousada, onde existem acomodações para cerca de 30 pessoas (alimentação e pernoite), bem como a possibilidade dos trabalhos do grupo não sofrerem interferências externas, como por exemplo, pessoas que não estejam fazendo parte efetiva da Maratona, ficarem circulando nas imediações, etc.

Esta Maratona de “Redecisão” tem uma duração relativamente curta, se comparada às dos Goulding (que tinham a duração de uma, duas, três e até quatro semanas). Entretanto, as condições do país, principalmente a situação econômica atual, tornam praticamente inviável a realização de Maratonas mais longas. Embora não esteja descartada essa possibilidade, inclusive da realização de Maratonas em outras cidades brasileiras, além do Rio de Janeiro. Basta que haja interesse e possibilidade da formação de um grupo (se for esse o caso, entre em contato conosco e estudaremos as possibilidades):

silveira@josesilveira.com

2) – Terapia Individual e de Grupo – Incorporei a Terapia de Redecisão ao processo psicoterapêutico, por ser ela uma técnica potente e de fácil manejo, tanto no contexto da terapia individual como em grupo. Aqui, não me atenho somente à Redecisão, ela é manejada como sendo apenas mais um instrumento agregado aos demais procedimentos pertinentes ao processo psicoterápico.

3) – Passos que normalmente sigo para trabalhar com “Redecisão” (são os mesmos sugeridos pelos Goulding):

CONTATO COM O CLIENTE:

– Qual é a queixa principal?
– O que o cliente estava fazendo a si mesmo quando decidiu procurar ajuda?
– Quais são seus sentimentos?
– Qual é o comportamento que não gosta em si mesmo?
– Ele está pensando ou está obcecado?
– Está deprimido?
– Está irado, entediado ou preso à fobia?
– Está infeliz no casamento? No namoro? No trabalho?
OBS.: – Tem que haver algum sentimento ou modo de pensar específico com o qual o cliente está infeliz.
– O que ele quer mudar?
– Esta modificação específica, desejada pelo cliente, é o que se torna o contrato.

APÓS TER DELINEADO O CONTRATO, volto as atenções para suas emoções:

– Como ele se sente, de um modo geral, consigo mesmo e com o seu meio?
– Que tipos de jogo ele joga para manter suas sensações de infelicidade?
– A que crenças e fantasias se prende para continuar infeliz? (por ex.: fica acordado à noite, ansiosamente obcecado em relação ao futuro?…)
– Resumindo: ele ignora o “aqui e agora” para continuar a ser infeliz?.

INVESTIGO QUE TIPOS DE DECISÕES ele teve que tomar para conseguir viver na casa onde passou sua infância:

– Que tipos de decisões satisfaziam as instruções claras ou ocultas que lhe eram dadas?
– Qual é o seu estilo de vida? Ele é heróico ou banal, um ganhador ou um perdedor?
– Como essas antigas decisões ainda estão sendo usadas na sua vida atual?
– Novamente: Como ele escolhe se modificar? Como ele pretende se sentir? Quer se comportar de modo diferente? Quer pensar do modo diferente?

ATÉ AQUI: O objetivo é verificar quais os pontos “emperrados” do cliente, ou seja, quais são os “Impasses” em que ele está “atolado”. Como esses “Impasses” se relacionam tanto com seu passado recente como com seu passado arcaico e como posso ajudá-lo a resolvê-los.