Pesquisas de Spitz, Harlow, estudos de privação sensorial e as conclusões citadas por Berne em supor

Por José Silveira Passos

Spitz concluiu através de seus experimentos que a privação de contato físico em crianças, por tempo prolongado, poderá levar ao enfraquecimento e até à morte. É o que Spitz chamou de privação afetiva e sugere que a forma mais eficaz de suprir essas carícias é através da intimidade física.

Berne cita um fenômeno correlato observado em adultos quando submetidos à privação sensorial, em que o indivíduo pode apresentar psicose passageira ou distúrbios mentais temporários, como é o caso de indivíduos condenados a longos períodos em solitárias, sendo este o castigo mais temido até mesmo pelos prisioneiros endurecidos pela brutalidade física. Cita também, em em sua obra “Sexo e Amor”, p. 158, o isolamento total como sendo uma das formas mais eficazes, usada como tortura, para obter confissões.

A privação emocional e sensorial poderá produzir modificações no organismo, continua Berne, citando que se parte do “sistema reticular” não for suficientemente estimulado, as células novas podem degenerar-se. Assim sendo, pode-se fazer uma ligação biológica a partir da privação afetiva e sensorial até alterações degenerativas e morte. A pertir dessas observações, Berne estabeleceu uma ligação em que a fome de estímulos ou de relacionamento pode ser comparada à fome de comida em termos de sobrevivência do organismo.

Segundo Berne, tanto biológicamente como psicológica e socialmente, estas fomes correspondem de várias formas. Cita os termos tais como desnutrição, saciedade, voracidade, jejum, apetite e outros, como sendo fácilmente transferíveis do campo da nutrição para o das emoções. A superestimulação tem o seu correspondente no comer em demasia e no passar mal em decorrencia.

À medida que a criança vai se desenvolvendo, vai se processando também a separação de sua mãe, terminando assim, a fase de estreita intimidade com ela. Daí para frente seu destino e sobrevivência estarão constantemente em jogo. Um aspecto é a mudança social em termos de intimidade física no estilo infantil para o estilo adulto, e, o outro aspecto é a luta constante para consegui-lo de volta. Ou suja, há uma mudança de modo que êle aprenderá a se satisfazer com outras formas de contato físico mais sútis. Contudo, o anseio de continuar recebendo contato físico (como recebia quando criança) permanece.

Em decorrência disso, há uma transformação parcial da fome infantil de estímulo em anseio de reconhecimento. É este anseio de reconhecimento que tornam as pessoas diferentes uma das outras e, por outro lado, são estas diferenças que imprimem condições para que haja relacionamento social e norteia o destino de cada um. Como por exemplo um ator de cinema que precisa de centenas de estímulos de seus admiradores todas as semanas, enquanto que um cientista necessita apenas de um estímulo por ano, vindo de um mestre respeitado.

“Estímulos” segundo Berne, pode ser usado como expressão para designar contato físico íntimo e em consequência, “estímulo” pode ser usado para caracterizar relacionamento, ou seja, “qualquer ato que implique no reconhecimento da presença de outra pessoa” (Berne, Os Jogos da Vida, p. 19) e que o “estímulo” pode ser entendido como a “unidade básica da ação social” (Berne, idem p. 19). “Uma troca do estímilos constitui uma transação, que por sua vez é a unidade básica do relacionamento sicial” (Berne, idem, p. 19).

No que concerne aos Jogos Psicológicos, Berne afirma que “qualquer relacionamento social representa uma vantagem sobre a ausencia de relacionamento” (Berne, idem, p. 19). Este fato baseia-se nos experimentos de S. Levine com ratos, no qual foi notado alterações favoráveis no desenvolvimento físico e químico do cérebro pela estimulação do contato físico. Com os resultados desses experimentos verificou-se que tanto os estímulos delicados como os dolorosos foram igualmente eficientes, mantendo a saúde dos animais, sendo que a falta destes trazia consequências negativas para a saúde.

Harry F. Harlow em seu laboratório experimental, criou uma imitação de uma macaca feita com armação de arame e outra imitação também de armação de arame, porém, esta última foi forrada com pano felpudo e macio. Na imitação de arame puro, êle colocou o alimento (mamadeira) e na com forração não colocou nenhum tipo de alimento. Observou que os filhotes de macacos preferiam se aninharem na imitação com forração, indo até a outra apenas para saciarem a fome.

O resultado desta e de outras experiências, permitiram Harlow concluir que a variável contato reconfortante suplementava a variável amamentação.

Harlow observou também, que os macacos rhesus com mães reais, demonstravam comportamentos social e sexual mais adiantados dos que os criados com mães substitutas, de arame com forração, e que estes últimos apresentavam comportamentos sociais e sexuais normais se diariamente tivessem oportunidade de brincar no ambiente estimulador dos outros filhotes. Harlow menciona que não se deve subestimar o papel desempenhado pelo relacionamento dos filhotes entre si, como determinante dos ajustamentos na adolescência e idade adulta. Harlow também sugere que a afetividade dos filhotes estre si seja essencial para que o animal possa responder de maneira positiva ao contato físico com seus semelhantes, sendo que esses contatos entre si, são provàvelmente, tanto no homem quanto no macaco, fatores preponderantes na identificação dos papéis sexuais.

Os experimentos e conclusões de Harlow serviram de embasamento ciêntífico às conclusões de Berne a respeito de fomes primitivas como a de contato físico, que podem ser comparadas a fome de comida.

Vários outros experimentos como os de Patton e Gardner, Escalona, Schanberg e colaboradores, e muitos outros (in Tocar – O significado Humano da Pele) demonstram que as evidencias assinalam que as necessidades físicas básicas que devem ser satisfeitas para que o organismo sobreviva, são as de oxigênio, líquido, comida, descanso, sono, eliminações vesicais e intestinais, fuga do perigo e evitação da dor. Observaram também que o sexo não é uma necessidade física básica, sòmente é observada em certo número de organismos em que as tensões sexuais necessitam ser satisfeitas para que a espécie possa sobreviver.

Indiscutivelmente, sem sobra de dúvidas, o fato é que nenhum organismo consegue sobreviver, por muito tempo, sem estimulação cutânea de origem externa. O que vem corroborar e confirmar de uma vez por todas, as idéias de Berne sobre a necessidade de carícias.

Bibliografia:

1 – Berne, E. Os Jogos da Vida, Editora Artenova, Rio de Janeiro.
2 – Berne, E. Sexo e Amor, Tradução de Pedro Lourenço Gomes, José Olympio Editora, 2ª Edição, Rio de Janeiro, 1988.
3 – Montagu, Ashley Tocar – O Significado Humano da Pele – Summus Editorial 2a. Edição.
4 – Spitz, R. A. O Primeiro Ano de Vida, Editora Martins Fontes, São Paulo